A Estátua de Nabucodonosor e a Pedra Eterna
Ir. Eric Alexandre
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Nos dias do profeta Daniel, o Senhor concedeu um sonho a Nabucodonosor que ilustra a sucessão de governos mundiais, bem como as perseguições e os controles exercidos sobre a nação de Israel até o fim dos tempos. Este sonho foi apresentado ao rei da Babilônia e interpretado pelo profeta Daniel, que fornece uma análise abrangente da sequência dos impérios globais, iniciando pelo babilônico até alcançar o período do Reino Milenar de Cristo, que será estabelecido após a Grande Tribulação. Este último, contudo, não será propriamente um império, mas sim o Reino de Cristo. Enquanto um império se mantém por meio da imposição, mesmo durante o tempo do Reino Milenar, Jesus não obrigará ninguém a aceitá-lo como seu Senhor e Salvador.
O sonho do monarca babilônico teria sido meramente um devaneio sem relevância no contexto escatológico, caso o Deus do Céu não tivesse revelado seu significado ao seu servo Daniel (2.27-30).
Examinar agora o texto de Daniel 2.31-45 é pertinente, pois nele se encontra referido tanto o sonho quanto sua interpretação: O rei viu uma grande estátua, cuja cabeça era composta de ouro puro; o peito e os braços eram feitos de prata; o ventre e as coxas eram de cobre; as pernas eram feitas de ferro; e os pés eram uma mistura de ferro e barro. No sonho a estátua fora atingida nos pés por uma pedra cortada sem auxílio humano (vv.31-34).
A CABEÇA DE OURO
Simbolizava Nabucodonosor e o Império Babilônico. Daniel revelou ao imperador babilônico que ele era a cabeça de ouro, uma vez que Deus lhe conferiu domínio e poder sobre várias nações. Nabucodonosor reinou de 605-562 a.C. No ano de 605, ele invadiu a Palestina e levou consigo um número significativo de reféns de Judá para Babilônia. Esse evento marcou o início do cativeiro de Judá, que durou setenta anos, conforme predito por Jeremias (Jr 25.11-12).
As Escrituras mostram que Jerusalém estaria sob opressão de povos não-judeus até que se completassem os tempos determinados (Dt 28.64-68; Lc 21.24). Este período teve início com a destruição de Jerusalém e do Templo de Salomão pelos babilônios em 586 a.C. (1Rs 25.1-21; Jr 52.29). Em 586 a.C., os babilônios realizaram sua última invasão a Jerusalém, resultando na devastação da cidade e do templo. O rei Zedequias, juntamente com todos os seus súditos, exceto alguns dos mais pobres, foram deportados para Babilônia (25.1-12; Jr 52.29).
O Império Babilônico destacou-se como um dos mais grandiosos da antiguidade, superando a supremacia assíria e dominando o mundo entre os anos de 605 e 539 a.C. Entretanto, seu domínio não seria eterno, pois acabou sucumbindo diante dos Medo-Persas, sendo conquistado pelo rei Ciro em 539 a.C., o qual subjugou a Babilônia durante o reinado de Belsazar (Dn 5) e permitiu o retorno dos judeus à sua terra natal (2 Cr 36.22-23; Esdras 1.1-4).
PEITO E BRAÇOS DE PRATA
Representavam o Império Medo-Persa, que sucederia a Babilônia. Historicamente, após o império babilônico, ergueu-se o Medo-Persa sob a liderança de Ciro em 539 a.C. Embora inferior ao babilônico, esse império ainda governou amplas áreas. O Império Medo-Persa dominou a Babilônia e implementou um sistema legislativo e administrativo rigoroso entre os anos 539–331 a.C.
VENTRE E QUADRIS DE BRONZE
Faziam alusão ao Império Grego, que emergiria após os persas. Este império foi fundado por Alexandre, o Grande, em 330 a.C. Na profecia, esse império teria domínio sobre toda a Terra (v.39), e de fato, este terceiro reino exerceu significativo domínio e influência sobre o mundo. O Império Grego (330–146 a.C.) conquistou vastas regiões e propiciou a disseminação da cultura helenística.
PERNAS DE FERRO
Indicavam o Império Romano, caracterizado por sua força e potência. O profeta explicou que as pernas de ferro da estátua representavam um reino que “seria forte como o ferro; pois assim como o ferro despedaça e destrói tudo, ele esmagaria e quebraria todos os demais reinos” (v.40). O quarto império mundial, o romano, com sua truculência dominou o mundo a partir de 67 a.C., em uma amplitude sem precedentes. Esse império demonstrou grande poder militar e instituiu um sistema jurídico duradouro.
PÉS DE FERRO E BARRO
Simbolizavam uma fase fragmentada do último império, misturado entre força (tríade maligna) e fragilidade (os dez reinos humanos sob o controle do Anticristo, conforme Daniel 7.7,8,19,20,23,24 e Apocalipse 13.1). Em relação aos pés da estátua, Daniel esclareceu que tratava-se de um reino dividido: forte como o ferro em alguns aspectos, mas frágil como o barro em outros. A incapacidade desses dois elementos se fundirem indicava que tal império (uma confederação de reinos) careceria de coesão interna. Ou seja, seria um grande governo, porém dividido (vv.41-43).
A História nos revela que, após a queda do Império Romano, surgiram vários estados nacionalistas, alguns com grande robustez e outros considerados frágeis. Ao longo dos séculos, esses estados têm se empenhado em formar uma aliança forte e coesa, mas sem êxito, em razão da falta do componente sobrenatural que unirá essa coalizão. Haja vista a União Européia, composta por países fortes como Alemanha e França, ao lado de países mais fracos como Letônia e Lituânia; mesmo entre as nações tidas como fortes, observa-se uma falta de consenso geral e a presença de fragilidades internas. Conforme observa o pastor Antonio Gilberto, "O ferro representa poderosos regimes ditatoriais ou totalitários [comunistas/socialistas], cuja presença cresce gradativamente em todos os continentes. Por outro lado, o barro simboliza governos populares ou democráticos, caracterizados por partículas soltas que refletem a ideia de um governo humano. Em contrapartida, o ferro é constituído por blocos densos, o que pode significar o domínio e a centralização do poder político, econômico, militar e religioso”.
No cenário global atual, coexistem estas duas modalidades governamentais, mas à medida que se aproxima a Grande Tribulação e o período do Anticristo, as modalidades totalitárias e tiranas, como o comunismo e o socialismo, tendem a prevalecer sobre as demais, o que deve levar à Nova Ordem Mundial, que é o governo global e autoritário do Anticristo.
A PEDRA CORTADA SEM MÃOS HUMANAS
“Enquanto observava isto, uma pedra foi cortada sem o auxílio de mãos humanas, a qual atingiu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmigalhou” (v.34). Após ser atingida nos pés pela Pedra não cortada por mãos humanas, a estátua foi completamente destruída. Os materiais ferro, barro, cobre, prata e ouro se transformaram em pó, que o vento logo dispersou (vv.34,35). A Pedra, então, cresceu e se transformou em um grande monte que encheu toda a Terra (v.35). Daniel disse a Nabucodonosor que, nos dias desses reis, Deus levantará um Reino que nunca será destruído, o qual esmiuçará e aniquilará todos os outros reinos (vv.44,45).
À luz da Palavra profética, os pés da estátua com seus dez dedos simbolizam os reinos que servirão de base para a ascensão da Besta (cf. Ap 13.1; Dn 7.24-25). É justamente os pés que foram atingidos pela Pedra! Dessa forma, podemos observar nesta revelação concedida a Daniel que o Milênio será o último Reino mundial, que sobrepujará a todos os impérios anteriores a ele, especialmente o do Anticristo. A Pedra que destrói a estátua diz respeito a Cristo e Seu Reino eterno (Mt 21.42-44; Ap 11.15).
O REINO MILENAR DE CRISTO
Em Lucas 21.24, Jesus declarou que Jerusalém seria oprimida pelos gentios até que os seus tempos se completassem. A expressão "tempos dos gentios" refere-se ao período em que Israel estaria sob o domínio estrangeiro. Esse período começou com a destruição de Jerusalém e do Templo de Salomão pelos babilônios em 586 a.C. (1Rs 25.1-21). Tal evento marcou o início do exílio judaico e a consequente perda da soberania sobre sua própria terra. O profeta Daniel teve visões proféticas sobre os impérios que dominariam Israel durante esse período (Daniel 2 e 7), confirmando assim a continuidade do domínio gentílico.
Durante os "tempos dos gentios", Jerusalém foi submetida ao controle de diversas potências estrangeiras, incluindo o domínio muçulmano entre os anos de 637 d.C. e 1917, durante o qual a cidade permaneceu sob influência islâmica por longos séculos. Posteriormente, experimentou também o domínio britânico entre 1917 e 1948, quando o controle sobre a Terra Santa ficou vinculado ao Mandato Britânico da Palestina. Em 1948, ocorreu o restabelecimento do Estado de Israel como uma nação; no entanto, Jerusalém continua a ser um foco intenso de disputas políticas e religiosas até os dias atuais. Apesar da restauração do Estado israelense em 1948, o "tempo dos gentios" ainda não terminou, visto que Jerusalém continua sendo palco de disputas internacionais e não está totalmente sob um domínio soberano judaico.
Para que se realize o que fora dito nas Escrituras, Jerusalém já passou por várias dominações gentílicas desde o cativeiro babilônico. No entanto, esse período terminará quando Cristo retornar, derrotar os inimigos de Israel e estabelecer Seu Reino Milenar. Nessa ocasião, Jesus reinará em Jerusalém por mil anos, restaurando plenamente o governo teocrático sobre Israel (Ap 20.1-6).


CONSIDERAÇÕES FINAIS
À luz do sonho que o Senhor proporcionou a Nabucodonosor, o domínio dos gentios começou com a cabeça de ouro, representando a Babilônia. Este controle prosseguiu com a união do Império Medo-Persa, simbolizada pelo peito e pelos braços de prata; seguido pela Grécia, que é representada pelo ventre e pelas coxas de bronze. Os tempos dos gentios avançaram com as pernas de ferro do Império Romano. As pernas de ferro, além de serem duas, representam também a maior parte do corpo, o que denota a vasta extensão desse império e sua divisão em Ocidente e Oriente, bem como a sua natureza rigorosa, caracterizada por uma governança ditatorial e totalitária (ferro). Este tempo de domínio gentílico se estenderá até que os pés da estátua (o Anticristo) sejam atingidos pela Pedra cortada sem mãos: Cristo.
Quando a Babilônia sucumbiu ante os medo-persas, a maneira de ser desta última coalização permaneceu como um reflexo da própria Babilônia. Essa realidade também se aplicou à Grécia e a Roma, e mantém-se válida para os estados nacionalistas modernos. Todos eles constituem partes integrantes do mesmo sistema global. Portanto, ainda se observa na atualidade a persistência da astrologia babilônica, dos princípios éticos medo-persas, das expressões artísticas e filosóficas gregas, além da concepção romana de que a paz pode ser alcançada por meio do poder militar. Diante do sonho de Nabucodonosor, a presente ordem mundial — com sua ideologia política, filosofia de vida e valores — só desaparecerá completamente quando o reino de Cristo for plenamente instaurado neste mundo.
O sonho de Nabucodonosor, interpretado por Daniel, não apenas previu a ascensão e queda dos impérios mundiais, mas também apontou para a consumação da história sob o domínio absoluto de Deus. Esta profecia encontra respaldo histórico e permanece pertinente, pois os sinais e o encaminhar da história sinalizam que a humanidade se aproxima do momento em que Cristo voltará para estabelecer Seu Reino Milenar. Além disso, ela oferece uma visão abrangente da história humana sob a perspectiva divina, nos ensinando que todos os impérios humanos, por mais poderosos que sejam, são efêmeros, e que Deus detém o controle sobre a história, estabelecendo e destituindo reinos conforme Sua vontade (Dn 2.21), sendo somente Seu reinado eterno. O fato de a Pedra ser “cortada sem auxílio de mãos humanas” reforça que o reino que esta por vir é originado não pela intervenção humana, mas pelo próprio Deus.
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