A Morte à Luz da Bíblia: Saiba a Verdade

Ir. Eric Alexandre

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Do hebraico “mãwet” e do grego “thanatos”, o termo “morte” significa literalmente “separação”. Não significa “deixar de existir”, mas ser separado, ainda que por etapas, da única fonte da vida: Deus (Sl 36.9). A Bíblia fala de morte em vários sentidos, mas sempre a separação é o significado principal. Nas Escrituras, o termo é usado para descrever a alienação entre o ser humano e Deus (Cl 2.13; Ef 2.1; 4.18; 1Tm 5.6), para descrever a separação entre o corpo, a alma e o espirito (Gn 3.19; Ec 12.7; Sl 146.4), para descrever também a separação eterna entre as criaturas e o Criador: “Então (o Criador) dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; [...] E estes irão para o tormento eterno...” (Mt 25.41,46 cf. Ap 20.11-15).
No hebraico, a palavra mãwet ocorre como antônimo de hayyîm “vida”. A morte é o oposto da vida: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti, que tenho te proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição: escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente” (Dt 30.19).

Deus não tem prazer na morte do homem (Ez 33.11; 2Pe 3.9), pelo contrário, Ele não o criou para morrer, mas sim para ser imortal e capaz de viver para sempre. Estava incluído no plano divino original dotar o homem — alcançando tanto a natureza material (corpo) quanto a natureza imaterial (alma e espírito) — de imortalidade, ainda que eternamente dependente do seu Criador (Gn 2.7; 3.22). Porém, logo no início, ao desobedecerem ao mandamento de Deus, tornaram-se sujeitos à penalidade do pecado que é a morte. A morte, em qualquer dos sentidos supramencionados, é vista na Escritura como a consequência penal do pecado. A origem da morte humana está no pecado, no sentido de que o resultado direto do pecado trouxe a morte ao mundo.
A morte não é um fenômeno natural na vida humana. Ela é a maldição divina contra o pecado. Em Romanos 5.12-14, está escrito: “...por um homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado entrou a morte, assim também a morte passou a todos os seres humanos, por isso que todos pecaram”. A morte entrou no mundo por causa do pecado como um julgamento de Deus, ela não fazia parte da condição original do homem, da intenção original de Deus para a humanidade, como não fazia parte da ordem natural da criação como um todo, mas passou a fazer parte da ordem caída a partir do momento que o homem cometera o primeiro pecado (Gn 3.19; Rm 6.23).

A morte desde a fundação do mundo. Deus formou o ser humano do pó da terra (seu corpo) e soprou nas suas narinas o fôlego da vida (seu espírito), e ele tornou-se uma alma vivente (sua alma: Gn 2.7). Nesse sentido, cada ser humano foi criado como um ser tricótomo, somado em uma unidade complexa constituída em três partes distintas, sendo: corpo (material), alma e espirito (imateriais). A morte quebra essa unidade à medida que a vida cessa no corpo físico, separando as partes materiais e imateriais do ser humano, onde o espirito volta para Deus (Ec 12.7; Lc 23.46; At 7.59), o corpo volta para o pó (Gn 3.19; Jó 34.14-15), e a alma — consciente — é destinada a um de dois lugares diferentes: paraíso para os salvos em Cristo, ou inferno para os condenados devido ao pecado (Lc 16.22-25). E ali aguardará até a ressurreição do corpo.
Nesse contexto, cabe reiterar que igual ao espírito, a alma do ser humano também não tem fim; ambos não desfalecem. Mesmo depois da morte física, a alma poderá viver junto com um corpo espiritual para sempre com Deus, ou permanecerá junto com o corpo físico eternamente no tormento: “Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode fazer perecer tanto a alma como o corpo no inferno” (Mt 10.28 cf. Dn 12.2; Mt 25.46; Ap 20.11-15).

OS QUATRO TIPOS DE MORTES
A morte possui estágios, sendo: morte moral, morte espiritual, morte física e, por último, a morte eterna — no caso dos perdidos. Portanto, a palavra “morte” tem mais de um sentido na Bíblia. É importante para o crente compreender os vários sentidos do termo morte e seus efeitos:

1° A MORTE MORAL: O ser humano nasce moralmente morto: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). E, em Efésios 2.1 está escrito: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados”.
A moral refere-se a um conjunto de valores absolutamente bons e a um conjunto de deveres absolutamente corretos e justos segundo os padrões de Deus. A moral é um dos aspectos divinos que fora caracterizado no âmago de cada ser humano no ato da criação conforme a imagem e semelhança de Deus.
Deus advertiu Adão e Eva que se comessem do fruto proibido, certamente morreriam (Gn 2.17). Quando Adão e sua esposa pecaram, sua morte moral e espiritual ocorreram imediatamente (3.7- 10), ao passo que a morte física veio posteriormente. Eles não morreram fisicamente no dia em que comeram, mas ficaram sujeitos à lei da morte como resultado da sentença divina, morrendo moral e espiritualmente no momento em que pecaram, e também começaram a morrer fisicamente naquele mesmo dia (5.5). A morte moral consistiu na sua natureza tornar-se intimamente pecaminosa, e este estado passou sucessivamente à toda a sua descendência, a humanidade, “...por isso que todos pecaram [...] e estão destituídos (separados) da glória de Deus” (Rm 5.14b; 3.23b).
A partir do primeiro pecado, todos já nascem moralmente mortos, e a inclinação da sua natureza caída é ao errado, incorreto e injusto (Gn 6.5, 8.21; Jó 15.14). O que Deus criou para ser bom e correto, foi pervertido pelo pecado, com isso, a imagem e semelhança de Deus no homem fora seriamente fragmentada, mas não totalmente destruída, pois, apesar de tornar-se pecador, o ser humano ainda retém em si certa parcela da semelhança de Deus, na sua inteligência e num certo senso de bondade, justiça e comunhão (cf. Gn 3.8-19; At 17.27,28). Essa semelhança é comunicada ao homem de várias formas. Ela está impressa na consciência do homem, na obra da criação e, especialmente, nas Escrituras. Ninguém pode alegar desconhecer a lei de Deus, pois em menor ou maior grau, todos recebem conhecimento sobre Sua vontade (Rm 1.18-22).
Em Gênesis 8.21 Deus disse: “...a imaginação do coração do homem é má desde a sua infância...”. A partir de Adão e Eva, todos nasceram com uma natureza pecaminosa (Rm 8.5-8), e uma tendência inata de seguir seu próprio caminho egoísta, alheio a Deus e ao próximo (Rm 3.10-18; Ef 2.3).
Cabe ressaltar para o fato de que, as Escrituras não ensinam em nenhum lugar que todos pecaram quando Adão pecou, nem que a culpa do seu pecado foi imputada a toda a raça humana. A Bíblia ensina, sim, que Adão deu origem ao pecado, o qual passou a todos os demais seres humanos, tornando a natureza destes pecaminosa, e por conseguinte, todos foram acometidos com as várias fases da morte: moral, espiritual, física e eterna (Rm 5.12; 1Co 15.21-22).

2° A MORTE ESPIRITUAL: A morte espiritual é a separação intima para com Deus. Em Gênesis 2.7 está escrito: “E o Senhor Deus formou o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Ao soprar no homem o “fôlego de vida”, Deus o fez “alma vivente”, ou um ser que tem vida (Jó 33.4). Nesse sopro, o Criador infundiu, no interior do homem, sua parte espiritual. Por esse fôlego, os humanos adquiriram o principal meio de conexão entre homem e Deus: seu espirito. Todas as pessoas possuem em si a aérea espiritual, pois, Deus, sendo espírito, colocou essa área em cada pessoa para ter comunhão intima e profunda com elas.
O espírito e a alma são as partes imateriais do homem que, juntos, formam “o homem interior”. Todavia, somente o “espírito” refere-se à caminhada do homem com Deus. A “alma” refere-se à caminhada do homem fazendo incursões tanto no mundo material quanto no mundo espiritual. A alma se comunica com o mundo material através do corpo e se comunica com o mundo espiritual por meio do espírito. A vontade de Deus é que haja harmonia espiritual nos três elementos distintos que constituem o homem: espírito, alma e corpo (1Ts 5.23).

Enquanto a morte física separa o espírito e a alma do corpo, a morte espiritual é a separação entre o homem e Deus. Deus é espírito, a morte espiritual nos afasta da comunhão com Deus (Gn 3.8). É o pecado que também faz a área espiritual morrer. E como o ser humano reside separado de Deus por natureza, ele vive sob os ditames de sua essência pecaminosa, a carne, a qual inclina-se constantemente ao pecado: “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne […] e a inclinação da carne é morte…” (Rm 8.5-6). Adão e Eva morreram espiritualmente quando cometerem o pecado, pois isso destruiu o relacionamento íntimo que tinham antes com Deus. Já não anelavam caminhar e conversar com Ele no jardim; pelo contrário, envergonhados, esconderam-se da Sua presença (Gn 3.8).

A Bíblia também ensina que, à parte de Cristo, todos estão alienados de Deus e da vida (Ef 4.17-18); estão espiritualmente mortos: “Quem tem o Filho tem a vida: quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo 5.12). As passagens bíblicas abaixo demonstram de modo cabal as limitações da vida física sem a comunhão com Deus: “Porque este meu filho estava morto, e reviveu...” (Lc 15.24). “E vos vivificou, estando vocês mortos em ofensas e pecados” (Ef 2.1). O fato de estarem “mortos [espiritualmente] vivos [fisicamente]” errantes neste mundo, denota certa ocasião em que alguém que seguia Jesus pediu para ir enterrar o seu pai, e Cristo lhe disse: “Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos” (Lc 9.59). Deveras uma pessoa literalmente morta não tem qualquer condição ou recurso para atender as demandas de um sepultamento. O que Jesus estava querendo dizer era: “Deixe que os espiritualmente mortos enterrem os fisicamente mortos”. Jesus conclui sua resposta dizendo: “...porém tu, vai e anuncia o Reino de Deus”, ou seja, a partir daquele momento, a missão maior, a prioridade maior daquele discípulo deveria ser pregar o evangelho da salvação para o maior número de pessoas mortas moral e espiritualmente enquanto ainda estivessem vivas fisicamente (Hb 9.27) para que tivessem a oportunidade enquanto era tempo de “passar da morte para a vida” (Jo 5.24), sendo tiradas da potestade das trevas e transportadas para o Reino da luz de Deus (Cl 1.13).
O estado de morte espiritual pode apoderar-se do cristão. Porque, assim como o ímpio, ainda que tenha vida física, isto é, trabalhe, coma, ande, estude, case, constitua família, alcance realização profissional e aparente ter vida espiritual, sendo membro de uma igreja local, tendo uma responsabilidade fixa na obra de Deus, ou até mesmo tendo um cargo ministerial, se está pessoa estiver separada de comunhão íntima com Deus, ela encontra-se “morta” espiritualmente.

3° A MORTE FÍSICA: Isto é, a morte do corpo. A morte física é como a saída de um lugar para outro (Lc 9.31; 2Pe 1.14-16). Ela divide a unidade que compõe cada humano (corpo, alma e espirito), desmontando a parte material das partes imateriais. Quando isso acontece, o corpo fica inanimado e apodrece.
A morte física rompe as relações naturais da vida material. Não há como relacionar-se com as pessoas depois que morrem — as almas dos mortos são imateriais e não podem ter contato com a matéria. A ideia de comunicação com pessoas que já morreram é uma fraude diabólica. Quando alguém procura contato com o espírito dos mortos é enganado pelo demônio, já que só ele aparece como um espírito de mentira (1Rs 22.22) e imita aquele cujo espírito está sendo invocado, conforme a doutrina dos demônios (1Tm 4.1). Essas invocações constituem “as profundezas de satanás” (Ap 2.24) e fazem com que os homens creiam na mentira (2Ts 2.11). Foi isso que aconteceu quando o rei Saul procurou a feiticeira pedindo que ela chamasse o espírito de Samuel. O demônio o enganou, fazendo com que cresse que Samuel havia aparecido, o que não foi verdade (cf. 1Sm 28.10-19).
A morte física não é o fim da existência humana. Não estamos condenados a morrer e deixar de existir. Nesse sentido, as palavras proferidas pelo Filho de Deus são terminantes: “Não se maravilhem disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação” (Jo 5.28-29).
Engana-se quem pensa que no estado intermediário a pessoa do homem deixa de existir ou entra num estado de existência inconsciente num suposto “sono da alma”. Realmente a Bíblia fala da morte como um “sono”, mas isso é apenas uma figura de linguagem para falar que a pessoa descansou de suas obras; ou então um eufemismo para se referir à cessação da vida (cf. Jo 11.11; At 7.20; 13.36; 1Co 15; 1Ts 4.13-15). A morte física coloca tanto o ímpio quanto o crente num estado — consciente — intermediário entre ela e a ressurreição (Lc 16.22-31). O estado intermediário denota o período que compreende desde a morte física até o momento da ressurreição, tanto dos salvos quanto dos ímpios. Nesse período as almas ficam aguardando a ressurreição de seus corpos que ocorrerá em dois momentos distintos: A primeira ressurreição (Ap 20.5-6; 1Ts 4.16) será a dos crentes, para a vida eterna, quando Jesus voltar para buscá-los (1Co 15.51-52). E, posteriormente, a segunda e última ressurreição será a dos ímpios, para a morte eterna, no evento universal do Juízo do Grande Trono Branco (Ap 20.11-15).

Portanto, a morte não é a simples cessação da existência física, mas uma das consequências complexas pela prática do pecado, cujo pagamento e justa retribuição acomete desde o corpo material até a alma imaterial. Quando morre, o pecador está ceifando na forma de sofrimento aquilo que plantou na forma de pecado (Gl 6.7-8; 2Co 5.10). Portanto, a morte física é o principal efeito externo e visível da ação do pecado (Gn 2.17; 1Co 15.21; Tg 1.15), ao passo que a consumação externa e visível deste, será no dia da ressurreição dos perdidos (Jo 5.28-29), quando o Senhor ressuscitará cada um com o mesmo corpo em que desceram a sepultura para serem julgados segundos as suas obras (Ap 20.11-15) e destinados ao Lago de fogo eterno, seu destino final: “Porque aquele que semeia na sua carne, da carne colherá a corrupção...” (Gl 6.8; Jó 4.8).

Todo ser humano, tanto crente quanto incrédulo, está sujeito à morte física. Trata-se de um processo que todos irão passar. Contudo, há uma diferença muito grande entre o significado desta morte para o ímpio e para o crente:

A morte física do ímpio. Todas as pessoas, em sua condição ímpia, mesmo que vivas fisicamente, encontram-se mortas espiritual e moralmente (Mt 8.22; Lc 15.24; Jo 5.24; 1Tm 5.6). Para o ímpio, a morte é literalmente uma maldição, uma penalidade. Apesar de a morte física não significar a sua extinção, ela é o começo de sua derrota total e eterno sofrimento. É a porta de entrada a um tormento infindável: “...porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e são muitos os que entram por ela” (Mt 7.13; cf. Pv 16.25).
Igual aos cristãos, os ímpios morrem fisicamente, porém, enfrentam ainda a quarta e última morte, a morte como condenação eterna. Nesta ocasião serão lançados: “nas trevas exteriores; e ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 10.13), em um lugar: “onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9.48).
A morte como condenação eterna é a pior de todas as mortes, pois trata-se da separação final entre criatura e Criador, entre ser humano e Deus. A condenação eterna inicia-se no ato da morte física do ímpio e do crente falso. Mediante a ela, ambos serão lançados em um lugar de pré-tormento, o inferno: “E no Hades (Inferno), ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama” (Lc 16.23-24).
No inferno, onde jaz o estado intermediário entre morte física e ressurreição para juízo (Mt 10.28; Lc 12.4-5), os perdidos serão reservados para o dia do juízo do Grande Trono Branco: “E o mar entregou os mortos que nele havia; a morte e o inferno também entregaram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo: esta é a segunda morte” (Ap 20.13-14).

A morte física do cristão. Embora o crente em Cristo tenha a certeza da vida ressurreta, não deixará de experimentar a morte física. O crente, porém, encara a morte de modo diferente do incrédulo.
A morte, para os salvos, não é o fim da vida, mas um novo começo. Neste caso, ela não é um terror (1Co 15.55-57), mas um meio de transição para uma vida mais plena. Para o salvo, morrer é ser liberto das aflições deste mundo (2Co 4.17) e do corpo terreno, o qual é corrupto (1Co 15.53-55), para ser revestido da vida e glória celestiais (2Co 5.1-5). Paulo se refere à morte como sono (1Co 15.6,18,20; 1Ts 4.13-15), o que dá a entender que morrer é descansar do labor e das lutas terrenas (Ap 14.13).

A Bíblia refere-se à morte do crente em termos consoladores. Por exemplo, ela afirma que Deus se agrada quando seu povo morre com salvação (Sl 116.15). Afirma que a morte do crente é a entrada na paz (Is 57.1,2) e na glória (Sl 73.24); é ser levado pelos anjos para o seio de Abraão (Lc 16.22); é ir ao “Paraíso” (Lc 23.43); é uma partida bem-aventurada para estar “com Cristo” (Fp 1.23); é ir “habitar com o Senhor” (2Co 5.8); é um dormir em Cristo (1Co 15.18; cf. Jo 11.11; 1 Ts 4.13); “é ganho... ainda muito melhor” (Fp 1.21,23).
Quanto ao estado dos salvos, entre sua morte e a ressurreição do corpo, as Escrituras ensinam que: no momento da morte, o crente salvo é conduzido à presença de Cristo no Paraíso (Lc 23.43; 2Co 5.6-8; Fp 1.23). O Paraíso também é um lugar intermediário, onde o salvo aguardará em descanso e plena consciência o retorno do Senhor Jesus, quando virá buscar a Sua Igreja para levá-la ao céu (Lc 16.19-31; 1Ts 4.16-17). O Paraíso é como um lar, um maravilhoso lugar de repouso e segurança (Ap 6.11) e de convívio e comunhão com os santos. O viver no Paraíso, até o dia da ressurreição do corpo, não são espíritos incorpóreos e invisíveis, mas seres dotados de uma forma corpórea celestial temporária (Lc 9.30-32; 2Co 5.1-4). No Paraíso, os crentes continuam a almejar que os propósitos de Deus na terra se cumpram (Ap 6.9-11).

Por isso, firmado na certeza da ressurreição, com a sua prometida transformação (Fp 3.21) e regozijo infindável, o salvo tem uma perspectiva da morte física como sendo bem-vinda e até mesmo preferida. Para o cristão, a morte do corpo, ao invés de ser derrota, significa vitória e ganho: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho [...] tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1.23).

4° A MORTE ETERNA: Chamada também de segunda morte (Ap 2.11; 20.6, 14), a morte eterna refere-se à perdição e tormento eterno — mas não a aniquilação da pessoa condenada, deixando está de existir. Isso seria contrário à essência dos homens aniquilá-los, já que foram feitos à imagem e semelhança de Deus que é Eterno (Gn 1.27). A morte eterna é à separação permanente e irreversível da presença graciosa de Deus. Tal morte é decorrente das mortes: espiritual e moral, e subsequente à morte física. Em outras palavras, a pessoa que morre fisicamente sem que seu estado de morte moral e espiritual seja revertido, passa a experimentar a morte eterna, que é a concretização final de seu estado de perdição eterna.
Sendo assim, da maneira como o homem entrar na eternidade, assim permanecerá para sempre. Aquele que entrar como salvo jamais cairá, e quem não for salvo, jamais salvar-se-á (Dn 12.2; Mt 25.46; Lc 16.26; 2Ts 1.9). É somente enquanto o homem ainda “acompanha com todos os vivos” que há esperança (Ec 9.4). A vida é uma dádiva de Deus, um bem muito precioso. Deus é fonte de toda vida e sem Ele estamos perdidos, essencialmente, mortos. O Filho do Homem tem, na presente era, poder para perdoar pecados e conceder vida (Jo 11.25-26) e, por isso, é aqui o tempo aceitável, o dia da salvação (cf. 2Co 6.2).

Em Hebreus 9.27 está escrito: “Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo” (Hb 9.27). O ser humano morre uma única vez, e depois disso, ele passa a desfrutar de seu destino eterno baseado nas escolhas que fez enquanto viveu neste mundo. As únicas opções para passar a eternidade são: o céu seguido de nova Terra ou o inferno seguido de Lago de fogo.
O Lago de fogo, como eternidade, é um destino sem volta para os perdidos (Ap 20.11-15), nele subsiste para todo o sempre a tribulação e a angústia (Rm 2.9), o pranto e o ranger de dentes (Mt 22.13; 25.30), a eterna perdição (2Ts 1.9) e a fornalha de fogo (Mt 13.42,50). Subsiste também as cadeias da escuridão (2Pe 2.4), o tormento eterno (Mt 25.46), um fogo que nunca se apaga (Mc 9.43), um ardente lago de fogo e de enxofre (19.20) onde a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre e não têm repouso, nem de dia nem de noite (Ap 14.11).

A alma é o que personifica cada pessoa, nela reside o caráter, as emoções, a consciência, os sentimentos e o intelecto. A alma condenada existirá da mesma forma para sempre no Geena. Em Mateus 10.28 está escrito: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo”. A pessoa condenada será encerrada — corpo e alma — no lago que arde em fogo e enxofre, separando-se, definitivamente, de Deus e da vida (Sl 116.8; Tg 5.20).

O homem já nasce inevitavelmente dentro da esfera da morte, e por si mesmo, não pode fugir da condenação. Somente quem tem a Cristo está fora dessa esfera. Só em Cristo o homem consegue salvar-se do poder da morte eterna e verdadeiramente ter vida plena.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A causa da morte sempre será o pecado, sendo o pecado a causa e a morte o efeito. O pecado é uma barreira para o relacionamento entre Deus e os seres humanos. Ele separa os seres humanos de Deus e qualquer separação da Fonte da Vida (Sl 36.9) é, naturalmente, morte para nós. Todos os seres humanos encontram-se destinados, mesmo que de modo parcial, a todas as mortes referidas nesse estudo como consequência penal do pecado. E para todos, a morte é uma transição deste mundo para outro mundo, mas o estado de existência no mundo vindouro não é o mesmo para todos. Na verdade, ele é essencialmente diferente para os salvos em Cristo e para os perdidos devido ao pecado: “E todas as nações serão reunidas diante dEle, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas” (Mt 25.32).

Qualquer pessoa sem Deus, embora viva fisicamente, está morta moral e espiritualmente, bem como sentenciada a morte eterna. Sem Deus ela possui meramente existência, e não verdadeiramente vida, cuja fonte é o próprio Deus (Sl 36.9). Cada pessoa passa a — realmente — ter vida ao voltar-se para Deus se recorrendo a Sua obra redentora e salvífica: “Porque o Filho do homem veio para buscar e salvar o que havia se perdido” (Lc 19.11; cf. Jo 10.10b), caso contrário, além de estar morto em todos os sentidos, sofrerá ainda os danos permanentes da morte eterna: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão [...] para vergonha e desprezo eterno (Dn 12.2 cf. Ap 20.12-15).
Contudo, nada será aniquilado no homem que fora criado à imagem de Deus. A alma, o espírito e o corpo não vão deixar de existir; ainda que o corpo, pela morte física transforme-se em pó (Gn 3.19), ele levantar-se-á do pó na ressurreição para existir infinitamente (Dn 12.2), e isso independe de sua condição de salvo ou perdido, a existência é assegurada a todos os homens, extensiva não somente ao estado intermediário dos mortos, mas por toda a eternidade, conforme Mateus 25.41,46: “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; [...] E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”.
Deus não cria nada para ser destruído. Seria contrário à natureza dos homens aniquilá-los, já que foram feitos à imagem e semelhança de Deus que é Eterno (Gn 1.27). Não permitir que continuem a existir segundo o destino que escolheram livremente (Dt 30.19), por mais doloroso que seja, é eliminar a imagem de Deus neles. Além disso, eliminar uma criatura feita à imagem eterna de Deus é renunciar ao que Deus lhe deu — a eternidade.
Portanto, apesar de os ímpios jamais desfrutarem da “vida eterna”, e sim da “morte eterna”, nem por isso deixarão de existir na sua condição de castigo e juízo divino por toda a eternidade.

Deus é a única solução para o pecado e para a morte: “Olhem para mim, e serão salvos, vocês, todos os termos da Terra; porque Eu Sou Deus e não há outro” (Is 45.22). A única maneira de escapar da morte em todos os aspectos é através da providência divina, a saber: Jesus Cristo. Ele disse: “...Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância”. Ele é o único “...caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 10.10b; 14.6).
O veredito do pecado sempre será a morte (Gn 2.17; Rm 6.23). O Senhor Jesus Cristo precisou morrer em nosso lugar para pagar o alto preço do nosso pecado, e com isso reconciliou-nos com Deus desfazendo a separação e alienação existentes entre nós (2Co 5.18-19). Foi uma morte substitutiva e sacrificial, cujo derramamento de sangue e morte de um inocente (Lv 17.11) serviu como meio de pagamento pela injustiça de outrem (Hb 10). E pela sua ressurreição, Jesus venceu e aboliu o poder de satanás, do pecado, e da morte (1Co 15.23-28; 1Jo 3.8).
Em Cristo, os crentes têm a garantia de que suas dívidas (pecados) para com Deus foram quitadas (perdoadas) e suas consequências eternas foram removidas mediante a justificação (Rm 5.18-19). E foram ressuscitados moral e espiritualmente, e jamais passarão pela morte eterna (Ap 2.11). Mas por outro lado, a morte física, dentro do campo do sofrimento, passou a ser uma das regras da existência humana, já que ela faz parte da vida terrena como uma consequência temporal do pecado — assim como outros tipos de sofrimento.
Extraordinariamente Deus pode suspender essa regra (morte física) como fez com Enoque e o profeta Elias, e também fará com os crentes que estiverem vivos na ocasião da volta do Senhor Jesus Cristo (1Ts 4.17), quando todos os efeitos do pecado serão definitivamente removidos. Mas até lá, a morte física continuará sendo parte da experiência da vida terrena.
No entanto, uma vez mais é importante afirmar que os crentes verdadeiros veem a morte como um inimigo vencido. Ela ainda pode lhes causar dor, mas não mais destruição. Nesse sentido, os crentes não encaram a morte com desespero, mas com esperança; não a encaram como um instrumento de maldição, mas como um meio de ser conduzido à presença do Senhor. Além do mais, a morte física de um cristão “É preciosa aos olhos do Senhor (Sl 116.15)”, pois, igual a Cristo: “...Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19.30), ela significa a consumação de sua vitória, o fim de sua luta e sofrimento, e o recomeço de uma vida mais plena junto com o Senhor para sempre. “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Ap 21.4).

No mais, Jesus já venceu a morte para nós: “Eu Sou o que vive; estive morto, mas eis que estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.18). Ele derrotou aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo, e libertou aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados com medo da morte (Hb 2.14-15). Agora, o último inimigo a ser vencido será a própria morte (1Co 15.26), ela será encerrada junto com o inferno e o diabo eternamente no lago de fogo (Ap 20.14).

E, “Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade e o que é mortal de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: ‘A morte foi destruída pela vitória’. ‘Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?’ O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.54-57).