Apocalipse 12 e a Grande Tribulação
Pr Ciro Sanches Zibordi; Ir Eric Alexandre
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O livro do Apocalipse é, sem dúvida, o mais surpreendente entre todos os livros da Bíblia e também de toda a produção literária de diferentes épocas. Este último livro do Novo Testamento é ricamente ornamentado com alegorias, símbolos, arquetipos, enigmas e figuras. Devido à sua grandiosidade literária, ele se torna alvo de múltiplas e variadas interpretações.
Uma passagem que possui um caráter profético-simbólico e que nos ajuda a compreender melhor a Grande Tribulação e os eventos escatológicos subsequentes é Apocalipse 12. Contudo, a revelação concedida pelo Senhor a João não se refere apenas ao futuro. O texto abarca também o passado e o presente, trazendo à tona detalhes esclarecedores acerca da atuação do Inimigo e da proteção de Deus, desde o surgimento de Israel até ao término do período tribulacionista. Além disso, enfatiza a vitória de Cristo e de sua Igreja sobre as hostes da maldade.
UMA PASSAGEM PARENTÉTICA
De acordo com a estrutura do Apocalipse delineada na obra em si — “às coisas que tens visto”, “as que são” e “as que depois destas hão de acontecer” (1.19) — podemos elaborar o seguinte esboço:
1. O primeiro capítulo aborda o passado.
2. Os capítulos 2 e 3 tratam das circunstâncias que João estava presenciando (a situação das igrejas da Ásia).
3. Os capítulos 4 a 22 referem-se ao futuro.
É importante notar, no entanto, que existem exceções conhecidas como passagens parentéticas, como ocorre no capítulo 12 e em determinados grupos de versículos ao longo do livro de Apocalipse. Ao longo dos capítulos, algumas narrativas são repetidas várias vezes, mas sob diferentes ângulos ou enfoques.
Alguns críticos, sem considerar essa particularidade, cometem o equívoco de afirmar que as Bodas do Cordeiro deveriam ser retratadas no início da obra, e não no capítulo 19.
A MULHER VESTIDA DO SOL
O capítulo em análise apresenta três personagens: a mulher vestida de sol, o Menino e o Dragão. O catolicismo romano, desconsiderando o simbolismo dessa passagem, postula que a mulher representa Maria, mãe de Jesus. Esta interpretação é uma das mais frequentemente utilizadas pelo catolicismo para justificar uma [imprecisa] assunção de Maria ao céu. Já alguns teólogos liberais — ignorando o fato que a Igreja se originou em Jesus (cf. Mt 16.18) e não o contrário — têm afirmado que a mãe do Menino é a Igreja. Ambas as interpretações não passam de especulações e carecem de embasamento contextual.
Não restam dúvidas de que essa mulher simboliza Israel e as doze estrelas referem-se, evidentemente, às doze tribos de Israel. O versículo 17 da passagem examinada demonstra que o Dragão (Satanás) travará guerra "ao resto da sua semente”, uma referência clara ao remanescente israelita: “Isaías exclama com relação a Israel: Embora o número dos israelitas seja como a areia do mar, apenas o remanescente será salvo” (Rm 9.27).
Apresentam-se a seguir as características da mulher:
1) Vestida do sol. Esta imagem simboliza a glória do Senhor, que tem envolvido o povo de Israel ao longo dos séculos (cf. Sl 84.11; 104.1,2; Ml 4.2).
2) Tem a lua debaixo dos pés. Essa representação alude à supremacia de Israel como nação escolhida: "Pois vocês são um povo santo para o Senhor, o seu Deus. O Senhor, o seu Deus, os escolheu dentre todos os povos da face da terra para ser o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a Terra" (Dt 7.6).
3) Tem uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. Isso remete aos patriarcas que originaram as doze tribos formadoras do povo israelita (Gn 37.9).
4) Grávida, já com dores de parto, gritando com ânsias de dar à luz. Essa condição ilustra como o privilégio de ser escolhida como a nação geradora do Messias trouxe e continuará trazendo experiências dolorosas para Israel: "Como a mulher grávida, quando se aproxima a sua hora, tem dores de parto e grita em suas dores, assim fomos nós por causa da tua face, ó Senhor!" (Is 26.17).
A IDENTIDADE DO MENINO
Alguns teólogos argumentam que o Filho gerado pela mulher representa a Igreja, os mártires ou, ainda, os 144.000 judeus selados durante a Grande Tribulação. Todavia, o contexto geral das Escrituras (SI 2.9; Ap 2.27) e o versículo 5 da passagem em questão demonstram que se refere a Jesus Cristo: "E deu à luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono”.
Essa citação esclarece que este Filho — após ter nascido da mulher e na linhagem israelita, bem como passar por humilhação, morte e ressurreição —, ascendeu aos céus para ocupar seu lugar no trono (Lc 24.51; At 1.9-11), e retornará um dia para lutar na batalha do Armagedon em defesa dos israelitas e dos gentios que se converteram durante o período tribulacionista e, posteriormente, estabelecer Seu reino milenar sobre a Terra (Ap 20.4-6). Adicionalmente, o versículo 10 reforça que o Filho da mulher é Jesus ao declarar que “agora é chegada a salvação, a força, o reino do nosso Deus e o poder do seu Cristo.”
A IDENTIDADE DO DRAGÃO
O Dragão não pode ser outro, a não ser o diabo, que ao longo das páginas sagradas é denominado de diferentes formas, tais como: leão (1 Pe 5.8; cf. SI 91.13), serpente (v.9; Gn 3.15) e dragão (Ap 20.2).
As características deste asqueroso personagem são as seguintes:
1) Grande. Essa característica demonstra que o Inimigo, por ser “um querubim ungido” (Ez 28.14-15) — os querubins são seres angélicos de elevada hierarquia —, possui grande poderio (Lc 10.19) e proeminência tanto no mundo físico (Lc 4.5-7; Mt 13.38, 39; 2 Co 4.3, 4) quanto no mundo espiritual (Ef 6.12; Dn 10.13). Ele é o deus dos pecadores (1Jo 3.8; Ef 2.2) e o líder supremo dos demônios (Ap 12.7-9).
2) Vermelho. Em uma tradução literal isso se traduz como "avermelhado como fogo". Esta tonalidade simboliza sua atuação sanguinária no mundo (cf. Ap 6.4; Jo 10.10), visto que ele é um assassino desde o princípio (Jo 8.44). O conflito entre Satanás e o povo de Deus teve início no Jardim do Éden, local em que a promessa de vitória sobre a serpente foi estabelecida por Deus (Gn 3.15). Além disso, a coloração vermelha também está associada ao pecado (Is 1.18), e como é de se esperar, o diabo é aquele que peca desde o princípio e que também induzir as pessoas a pecarem (Jo 8.44).
3) Possui dez chifres. À luz da profecia bíblica, os dez chifres representam países que, ao serem reagrupados em uma Nova Ordem Mundial, formarão a base do império do Anticristo: "E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão o poder como reis por uma hora, juntamente com a Besta" (Ap 17.12; cf. Dn 7.24).
4) Tem sete cabeças com sete diademas. Isso diz respeito ao domínio e à autoridade que o diabo exerce no sistema do mundo caído: “o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1 Jo 5.19). Ele é “o deus deste século” (2 Co 4.4; cf. Jo 12.31). A semelhança entre o Dragão e a Besta ressalta que esta última será dotada do poder daquele, conforme indicado em Apocalipse 13.2: “e o Dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio".
5) Possui uma grande cauda. Esta simbologia remete à sua astúcia, à sua baixa moralidade e ao seu potencial persuasivo (cf. Is 9.15). O Adversário mostra-se tão astuto e maligno que, por meio do engano, conseguiu arrastar consigo um terço dos anjos que não guardaram o seu principado (2 Pe 2.4; Jd v.6), assim como engana a geração atual e continuará a enganar as futuras (2 Co 2.11; Ap 12.9; 20.7-10). Somente através da Palavra de Deus e da atuação do Espírito Santo é que suas artimanhas podem ser identificadas (Mt 4.1-11).
SATANÁS SERÁ PRECIPITADO NA TERRA
A tribulação significa não somente grandes conflitos sobrenaturais na Terra, mas também nos céus. Após o Arrebatamento da Igreja, uma batalha será travada no céu. Sob a liderança do Arcanjo Miguel — designado para proteger o povo de Deus (Jd v.9; Dn 12.1) —, os anjos de Cristo triunfarão sobre os anjos do diabo: “E houve uma batalha no céu: Miguel e seus anjos lutaram contra o Dragão, e o Dragão, junto com seus anjos, revidou. No entanto, não conseguiram vencer e não houve mais lugar para eles nos céus” (Ap 12.7-8). Com o Arrebatamento da Igreja e a retirada “parcial” do Espírito Santo deste mundo, é provável que essa expulsão de Satanás dê início à Grande Tribulação, junto com a ascensão do Império do Anticristo.
Nesse tempo, o Dragão será expulso das regiões celestiais: “foi precipitado o grande dragão” (Ap 12.9). O diabo já foi julgado (Jo 16.8-11) e sua trajetória está em declínio:
1. Quando tentou igualar-se a Deus, foi lançado para fora dos Céus, juntamente com seus anjos (Is 14.12; Ef 2.2).
2. No início da Grande Tribulação, será lançado à Terra (Ap 12.7-9).
3. No início do Milênio, será aprisionado no Abismo (Ap 20.1-7).
4. No fim do Milênio, será solto do Abismo e conseguirá mobilizar um número incontável de pessoas por meio de seu notável poder de persuasão, cuja finalidade é batalharem contra Cristo e os santos (Ap 20.7-10).
5. Por fim, será lançado no Lago de Fogo (Rm 16.20; Ap 20.10).
Hoje, os anjos caídos agem no mundo (Ap 12.4), mas com limitações. Eles habitam as regiões celestiais, no espaço sideral (Ef 6.12; Gl 1.8), onde está localizada a sede do governo do “príncipe das potestades do ar” (Ef 2.2). Por ocasião da Grande Tribulação, as hostes espirituais da maldade exercerão uma atuação mais direta e concentrada sobre os habitantes da Terra Ap 12.12).
A queda do Inimigo à Terra causará grande prejuízo ao mundo, especialmente a Israel. A tríade satânica (Ap 13; 20.10) se estabelecerá com muita força: “Ai dos que habitam na terra e no mar! Porque o diabo desceu até vocês e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo” (Ap 12.12b). A expressão “pouco tempo” diz respeito à duração total de 7 anos da Tribulação, uma vez que, ao término desse período, o Adversário será encarcerado por mil anos e, em seguida, após esse intervalo milenar, será solto apenas “por um pouco de tempo”, sendo então lançado no Lago de Fogo onde permanecerá eternamente (Ap 20.1-10).
Quando Miguel e os anjos de Deus derrotarem o Dragão, este será expulso para a Terra junto com todos os seus anjos para infernizar a humanidade que permanecer neste mundo, em uma intensidade sem precedentes, já que seu tempo é curto, ou seja: ele está ciente de sua condenação final, não por ter a capacidade de prever o futuro, mas em virtude do conhecimento que tem das profecias bíblicas. Além disso, ele sabe que a Palavra de Deus é infalível.
Rebelde como é, Satanás continuará com suas atividades durante o tempo que lhe resta até o término da Grande Tribulação. Ele estará ativo por detrás das ações do Anticristo e do Falso Profeta. Por outro lado, Deus trará sobre a Terra mais julgamentos, a saber: os sete selos, as sete trombetas e as sete taças de Sua ira, que derramarão Sua indignação sobre um mundo que se acha rebelado contra Ele.
Enquanto isso, haverá grande alegria nos Céus (Ap 12.12a). Por habitarem em uma posição intermediária, as regiões celestiais, o diabo tem acesso tanto ao Céu quanto à Terra. De fato, neste momento atual, ele ainda detém um acesso relativamente livre à presença de Deus para acusar Seus servos (Jó 1.6-11; Zc 3.1,2), porém isso não mais ocorrerá (Ap 12.10).
A FÚRIA DO DRAGÃO CONTRA A MULHER
Após ter sido lançado à Terra, as Sagradas Escrituras afirmam que “o dragão irou-se — ainda mais — contra a mulher e foi fazer guerra ao resto da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo” (v.17). A “mulher” refere-se aos fiéis de Israel na Judéia, enquanto o “resto da sua descendência” diz respeito aos judeus crentes em outras partes do mundo. Essa situação é corroborada pela exortação de Jesus ao povo da Judéia para que buscasse refúgio nas montanhas quando surgisse “a abominação da desolação de que falou o profeta Daniel" (Mt 24.15, 16).
A fúria do Dragão em relação à mulher não é uma novidade, tampouco um fenômeno restrito ao período escatológico. Na verdade, essa animosidade remonta ao início da humanidade, quando ainda habitavam no Éden (Gn 3). Em Apocalipse 12.4 está escrito que “o Dragão parou diante da mulher para que, quando ela desse à luz, ele lhe tragasse o filho"; mas ele não conseguiu fazer mal ao Menino. Como mencionado anteriormente, a intenção do Dragão de eliminar a criança arrasta-se desde a promessa de Gênesis 3.15, momento em que soube o que a descendência da mulher (o menino) faria a ele. Por conseguinte, vem se opondo aos judeus ao longo dos séculos, na tentativa falha de ceifar a vida de Jesus ou aniquilar tanto a nação de Israel quanto a Igreja de Cristo.
Desde os primórdios, o Inimigo se opôs a Israel, pois sabia que por intermédio dessa nação o Senhor realizaria a redenção da humanidade. Porém Satanás não conseguiu frustrar o plano divino! O Menino Jesus — Filho de Davi, Filho de Abraão e Filho Unigênito de Deus — nasceu em Belém da Judéia (Mt 1.1; 2.1; Jo 3.16; Gl 4.4,5).
Ao longo da História, foram diversas as tentativas do Dragão de destruir a mulher vestida do sol e o Menino:
1) Caim matou Abel; mas Sete assegurou a continuidade da linhagem santa e piedosa, da qual sugiram os primeiros israelitas (Gn 4—5; 10.1—12.3).
2) Durante a época de Moisés, Faraó ordenou o homicídio dos meninos israelitas, porém Deus assegurou a sobrevivência de muitos deles, incluindo Moisés, que se tornou o libertador do povo israelita (Êx 1).
3) Saul, endemoninhado, tentou matar a Davi, pois o Diabo sabia que o Messias descenderia do trono davídico. Mais uma vez, Deus frustrou o plano maligno ao proteger a vida de seu servo (1 Sm 18.10, 11).
4) O Inimigo usou a rainha Atalia para matar todos os descendentes de Davi. No entanto, o futuro rei Joás foi escondido por sua tia e assumiu o trono em Judá aos sete anos (2 RS 11).
5) Nos dias da rainha Ester, o Adversário usou o mau Hamã, que elaborou um plano com data e hora determinadas para eliminar todos os judeus (Et caps. 3; 8; 9).
6) Nos tempos neotestamentários, Herodes tentou matar o menino Jesus; no entanto, Deus alertou os magos e, posteriormente, José, que então levou a criança para o Egito (Mt 2).
7) No deserto, a antiga Serpente tentou o Senhor, mas recebeu dEle, em três ocasiões, a poderosa afirmação: "Está escrito", sendo assim derrotada pela Palavra de Deus (Mt 4.1-11).
8) Em uma tentativa de impedir que Jesus chegasse à crucificação, o Diabo procurou eliminá-lo antes mesmo em Nazaré. Milagrosamente o Senhor escapou passando pelo meio deles..." (Lc 4.17-30).
9) Satanás conseguiu exercer influência psicológica sobre Pedro, que procurou dissuadir Jesus de sua missão redentora; entretanto, ouviu do Senhor a firme resposta: "Para trás de mim, Satanás" (Mt 16.22,23).
10) No Gólgota — visto que o Diabo não logrou matar Jesus antes da crucificação — ele tentou convencê-lo a desistir do madeiro (cf. Mt 27.40-42; Lc 23.39), pois temia o poder do sangue (1 Pe 1.18, 19; Cl 2.14,15; Hb 2.14, 15). Porém, ali o Senhor deu o brado da vitória: "Está consumado” (Jo 19.30). Glória a Deus! Todas as investidas diabólicas foram frustradas.
O povo judeu conhece muito bem o que é perseguição, mas o pior ainda está por vir. Muitos associam a passagem de Apocalipse 12.17 ao tempo do cumprimento da angústia de Jacó, conforme profetizado em Jeremias 30.7.
A FUGA DE ISRAEL PARA O DESERTO
Logo no início da primeira metade da Tribulação, após sua queda das regiões celestiais, o Maligno intensificará a perseguição aos israelitas remanescentes e aos gentios por intermédio da Besta e do Falso Profeta, em conluio com nações hostis a Israel: "Quando o dragão percebeu que havia sido lançado à terra, perseguiu a mulher (...). Todavia, a partir da segunda metade da Grande Tribulação, essa perseguição se tornará ainda mais severa, pois a Besta (o Anticristo) colocará uma imagem de si mesmo no templo que será construído em Jerusalém. Quando a Besta fizer isso, ela quebra o pacto de paz que havia feito com Israel e a nação tem de fugir por segurança ao lugar preparado por Deus: “A serpente lançou de sua boca um grande rio de água atrás da mulher, tentando arrebatá-la com a correnteza” (Ap 12.13,15).
Essa perseguição se dará porque, além de serem a nação escolhida por Deus e da qual originou-se o Cristo, os fiéis israelitas, que se converterem nesse período, também se oporão à religião universal do Anticristo. Ao examinarem as Escrituras com sinceridade, eles irão reconhecer a verdade de que Jesus Cristo é o Messias (Dt 4.30,31; Zc 13.8,9).
Portanto, Deus não abandonará seu povo eleito que estará enfrentando perseguições; ao contrário, Ele os protegerá durante a Grande Tribulação, especialmente na fase final desse período: "E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias" Ap 12.6). Neste lugar preparado por Deus, a mulher será cuidada por 1260 dias, ou três anos e meio, período em que a última parte da Grande Tribulação, quando os mais severos julgamentos estarão caindo sobre a terra. A repetição deste número no Apocalipse é uma indicação de que este tempo é para ser interpretado de forma literal e não simbólica.
DEUS PROTEGERÁ ISRAEL
Embora a vitória do arcanjo Miguel e dos anjos de Deus sobre Satanás e os demônios (v. 7, 8) indique um triunfo momentâneo, isso não implica na derrota definitiva desses espíritos malignos. Apesar da impossibilidade de adentrarem o Céu ou as esferas celestiais, o Adversário ainda exercerá um significativo poder sobre a Terra, especialmente em virtude do afastamento do Espírito Santo deste mundo junto à Igreja durante o período escatológico (Tt 2.13, 14; 1Ts 4.17).
Em Apocalipse 12.14 está escrito: "E foram dadas à mulher duas grandes asas de águia, para que voasse ao deserto, ao seu refúgio, onde é sustentada por um tempo, tempos e metade de um tempo, fora da vista da serpente". Neste versículo, as asas de águia simbolizam o livramento de Deus, através do qual Israel será conduzido a um lugar seguro, onde estará protegido do Dragão (SI 27.5; 91.1,4). Satanás não conseguirá impedir que a mulher alcance o lugar que Deus lhe tem preparado no deserto. O texto apocalíptico emprega nesta passagem uma linguagem e tipologia oriundas do Antigo Testamento. As "duas grandes asas de uma águia" refletem a figura utilizada em Êxodo 19.4, onde Deus consolou a Israel com as palavras: "Os levei sobre asas de águia e os trouxe a mim". Assim, as asas de águia são símbolos do poder pelo qual Deus derrotou o domínio do Egito ao destruir seu exército para libertar os hebreus (Dt 32.10, 11; Is 40.31).
O Inimigo, então, lançará uma torrente de água contra a mulher (Ap 12.15). Na interpretação profética, as águas simbolizam “povos, multidões, nações e línguas” (Ap 17.15; Is 8.7). Isso mostra que os exércitos formados pelo Anticristo marcharão contra Israel, de forma similar ao que aconteceu com Faraó durante a saída dos israelitas do Egito. A mulher também contará com a ajuda da "Terra" (Ap 12.16), isto é, povos e nações que apoiam Israel (Mt 25.34-40).
JESUS SOCORRERÁ O REMANESCENTE ISRAELITA
Atualmente, Israel ainda enfrenta as repercussões negativas por ter rejeitado o Messias e se rebelado contra Deus (1 Ts 2.15, 16; Rm 10.21). Durante o período tribulacionista, seu sofrimento será ainda maior, exigindo que lute com bravura contra seus inimigos que se levantarão de toda parte (JI 3.9, 10). Já na fase final do período tribulacionista, Satanás e os seus demônios reunirão muitas nações sob a direção do Anticristo a fim de guerrearem contra Israel e para destruírem Jerusalém: "porque são espíritos de demónios, que fazem prodígios; os quais se dirigem aos reis [governantes e líderes do povo] do mundo inteiro para reuni-los para a batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso. [...] E assim os ajuntaram no lugar que, em hebraico, se chama Armagedom" (Ap 16.14,16; cf. 17.14; 19.19; Ez 38,39; Zc 14.1-7). Embora o ponto central esteja na Terra de Israel, a batalha do Armagedom envolverá a totalidade do mundo (Jr 25.29-38).
Sobre a batalha do Armagedon, o Senhor disse: “Reunirei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá, onde entrarei em juízo com elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a quem dispersaram entre as nações, repartindo a minha Terra” (JI 3.2).
Este será o cenário mais dramático da história dos judeus, quando estiverem cercados por exércitos das nações unidas sob o domínio da Besta. Nesta circunstância decisiva, após já terem se refugiado nos confins da Terra e não houver mais esperança de salvação e, ainda, prestes a serem consumidos pelo exército adversário, levantarão os olhos em um clamor desesperado pedindo pelo Messias. Inclusive, o auge desse momento foi predito pelo próprio Senhor Jesus: "Porque eu vos digo que, desde agora, vocês não me verão mais até que digam: Bendito Aquele que vem em nome do Senhor!" (Mt 23.39). É nesse contexto extremo que o Senhor Jesus intervirá em favor de Israel que, finalmente encontrará seu Messias esperado, dotado de grandeza e autoridade universal; então alegrar-se-ão, conforme relatado pelo profeta Isaías: "Eis a voz dos teus atalaias! Eles levantam suas vozes e, juntos, exultam de alegria, pois verão com seus próprios olhos quando o Senhor retornar a Sião" (Is 52.8).
Quando o remanescente israelense estiver completamente cercado e a Serpente pronta para dar o bote, ela terá que parar sobre a “areia do mar” (Ap 12.16); Deus estabelecerá limites à sua ação. O próprio Senhor Jesus virá em poder e grande glória para pôr fim ao tempo dos gentios, aos atos demoníacos e livrar Israel: "Logo após a tribulação daqueles dias, o sol se escurecerá e a lua não dará sua luz; as estrelas cairão do céu e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e grande glória" (Mt 24.29-30).
O Senhor enviará seus anjos com um forte clamor de trombeta para reunir os seus escolhidos desde uma extremidade até a outra dos céus. Na manifestação de Cristo em poder e grande glória, haverá a reunião de todos os santos de todas as épocas: aqueles que já estão nos Céus em corpos glorificados [às Igrejas do Antigo e do Novo Testamento], juntamente com os remanescentes judeus e gentios que conseguiram sobreviver à Grande Tribulação.
Ele virá para julgar e pelejar com justiça. Este será o dia em que ferirá as nações: "E da sua boca saía uma espada aguda, com a qual ferirá as nações; e Ele as regerá com vara de ferro e pisará o lagar do vinho da fúria e da ira do Deus Todo-Poderoso" (Ap 19.15).
No referido evento, o Senhor Jesus entrará em juízo contra os ímpios e as nações que demonstraram hostilidade em relação a Israel (Mt 25.31-46); assim, enfurecidos, esses atacarão Cristo e todo o seu povo. Entretanto, o Senhor os derrotará com a espada que emanará de Sua boca e lançará o Anticristo e o Falso Profeta ainda vivos no Lago de Fogo (Ap 19.11-21), além de aprisionar o Dragão e seus demônios no abismo por mil anos (Ap 20.1-3).
ISRAEL NO REINO MILENAR DE CRISTO
Após a manifestação em poder e grande glória, o julgamento das nações, a batalha do Armagedon u o aprisionamento do diabo, o Senhor Jesus estabelecerá um reinado na Terra que durará mil anos, no qual ingressarão todos os santos de todas as épocas, incluindo os remanescentes judeus e gentios que vieram da Grande Tribulação. Sob o reinado de Cristo, haverá paz, segurança, prosperidade e justiça em toda a Terra (Is 2.2-4; Mq 4.4; Zc 9.10; Zc 2.5; 9.8). Nenhuma pessoa descrente terá acesso a este Reino. Não existirá predominância nacional; ao contrário, Israel será o centro de tudo (Zc 14.9). O rei Davi, então, ficará à frente do governo (Ez 34.23-24).
O reino milenial representará um período grandioso da plenitude e realização dos propósitos divinos para esta Terra. Este período contará com um governo teocrático (governo de Deus), permitindo assim o cumprimento das alianças estabelecidas por Deus com Israel: a ocupação da terra (Ez 11.17-18), o trono de Davi (Is 11.1-2), a Lei inscrita no coração (Jr 31.33) e um conhecimento pleno do Senhor (Jr 31.34). É nesse contexto que essa era gloriosa é ansiosamente esperada pelo povo israelita (Lc 2.38; At 1.6-7).
Neste reino milenial, ocorrerá a concretização da Dispensação da Plenitude dos Tempos: "De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra" (Ef 1.10).
Ao término desses mil anos, Satanás será solto para enganar e reunir inúmeras pessoas em uma última batalha contra Deus e Seu povo. Contudo, "fogo descerá do céu e os consumirá. E o diabo, que os enganava, será lançado no Lago de Fogo e enxofre, onde se encontra a Besta e o Falso Profeta; ali serão atormentados dia e noite para todo o sempre" (Ap 20.7-10). Por fim, o reino milenial terminará com o Juízo Final (Ap 20.11-14). O velho mundo será destruído pelo fogo, dando início ao Novo Céu e à Nova Terra descritos em Apocalipse 21 e 22.
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