Futebol e Valores Cristãos: Uma Perspectiva Bíblica

Ir. Eric Alexandre

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Futebol é um esporte em que duas equipes concorrentes, compostas por 11 jogadores cada, competem com o objetivo de vencer o oponente ao introduzir a bola em seu gol o maior número de vezes possível, ao mesmo tempo que se busca evitar sofrer gols, ou pelo menos o menor número de vezes possível. A equipe que conseguir marcar mais gols ao fim da partida é declarada vencedora.

Acredita-se que as origens do futebol remontam a aproximadamente 5 mil anos a.C. na China. O futebol moderno emergiu na Inglaterra no século XIX. Contudo, os registros históricos sugerem uma origem do desporto que não se limita necessariamente aos chineses; há indícios de que práticas semelhantes já eram realizadas por egípcios, bem como por gregos e romanos antigos. Esses povos frequentemente eram caracterizados pela Bíblia como nações hostis ao Deus de Israel, ateus e violentos, envolvidos avidamente em injustiças e idolatrias. Um dos fundadores da Igreja primitiva afirmou que a mãe de todos os espetáculos públicos em Roma era a idolatria pagã associada aos esportes. Sem esses ídolos, o intricado espetáculo romano jamais teria alcançado tal proeminência e centralidade cultural. Tanto os esportes antigos quanto os jogos modernos apresentam padrões semelhantes: atraem os espectadores para competições repletas de rivalidade, idolatria e discórdia. Da mesma forma que no passado, muitos esportes contemporâneos ainda estão conectados a falsos deuses, embora de maneira menos explícita. A atualidade reverencia ídolos como luxúria, beleza, riqueza e poder — todos alimentando uma indústria midiática robusta.

Hoje em dia, o futebol é reconhecido como o esporte mais popular do mundo, engajando cerca de 270 milhões de pessoas em suas diversas competições; é considerado “paixão nacional” [Brasil] e internacional [Mundo]. Este desporto movimenta um mercado financeiro bilionário, proporciona eventos globais e transforma atletas de todas as origens em ídolos internacionais enquanto utiliza tecnologia avançada tanto nas transmissões quanto nos equipamentos esportivos.

Além de sua expansão pelo mundo afora, o futebol tem conquistado espaço dentro do contexto religioso. Diversas Igrejas evangélicas têm aderido essa atividade em suas congregações; realizam jogos frequentes e campeonatos entre ministérios diferentes, e, até seus membros têm a liberdade para se tornarem jogadores profissionais. No entanto, apesar dessa profissão ser considerada lícita segundo o homem natural (1Co 2.14), ela não é moralmente aceitável e não convêm aos verdadeiros cristãos devido à sua natureza ímpia — que engloba praticamente todas as obras da carne — além de comprometer princípios bíblicos fundamentais como: o amor ao próximo, o ato de considerar os outros superiores a si mesmo, a unidade do corpo de Cristo e a devida santidade exigida do servo ou serva de Deus.

O FUTEBOL E AS OBRAS DA CARNE

A “carne” representa o que somos por nascimento natural [pecadores], o que nos leva à necessidade de um novo nascimento (Jo 3.3). Na Bíblia, o termo carne refere-se à natureza pecaminosa que passou a existir dentro do ser humano após o pecado de Adão, a qual corrompeu seu caráter moral e a imagem e semelhança de Deus, os levando a realizarem ações contrárias à vontade divina. A seguir, será examinado quais dessas obras estão presentes no futebol, assim como outros motivos indiscutíveis extraídos das Escrituras Sagradas que demonstram ao crente salvo as razões para evitar envolvimentos com o futebol.

Em Gálatas 5.19-21, está escrito: “As obras da carne [natureza pecaminosa] são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia [sedução], idolatria, feitiçaria; inimizades, porfias [disputas/competições], ciúmes, iras, discórdias, dissensões [divisões], enganos, invejas, homicídios, embriaguez, glutonaria [gula] e coisas semelhantes a estas. Repito o que eu já disse antes: aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus”.

1º - Impureza. Derivada do grego “akatharsia”, a expressão impureza na Bíblia refere-se a tudo que contamina a pessoa, caracterizando-se em sujeira moral e espiritual. Assim, a impureza abrange todas as demais obras da carne mencionadas em Gálatas 5.19-21, mas transcende essa lista. O Senhor Jesus afirmou que as impurezas têm origem no coração humano, as quais são responsáveis pela sua contaminação e se desdobram em obras (Mc 7.21-23), e que “Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1Ts 4.7). Isso implica que devemos nos afastar de toda prática impura e adotar comportamentos distintos da impureza. Contudo, essa realidade cristã parece não se aplicar ao futebol. Durante as partidas, ocorrem conflitos, agressões físicas, psicológicas e verbais, incluindo palavrões, xingamentos e expressões impuras. Há também maldade, desunião, egoísmo, ostentação, discórdia e desentendimentos. A Palavra do Senhor afirma: “Entre vocês não deve haver prostituição, nem qualquer espécie de impureza ou avareza. Estas coisas não devem nem ser nomeadas entre vocês, como convém a santos” (Ef 5.3).

2º - Lascívia. Proveniente do grego “aselgeia”, o termo lascívia significa sensualidade e luxúria; refere-se ao ato de exibir ou ressaltar partes do corpo que podem provocar desejos em outrem. Estatisticamente falando, pernas expostas atraem olhares tanto de mulheres quanto de homens em todo o mundo. A atitude de expor as pernas — comum entre jogadores de futebol devido aos seus uniformes — não é condizente com o comportamento esperado de um crente salvo. Os cristãos têm a preocupação de se vestirem com pudor e modéstia, com o intuito de evitar se tornarem objeto de desejos eróticos para outras pessoas. Mesmo sem intenção por parte do jogador, tal exposição pode ocorrer indiretamente. Provocar desejos em outros configura um pecado de lascívia e luxúria, pelo qual os jogadores podem se transformar em instrumentos no despertar da aspiração e cobiça alheias (Êx 20.17; Mt 5.28).

3º - Idolatria. A palavra idolatria é composta por dois termos de origem grega: eidolon (ídolo) e latria (adoração). Assim, idolatria refere-se à adoração de qualquer tipo de ídolo, seja este material ou imaterial. O ídolo representa um deus falso que busca preencher o vazio do coração humano. Idolatrar é o pecado que mais afronta o Criador, pois usurpa Seu lugar no coração da criatura e substitui-O por qualquer outra coisa passível de adoração, culto e prioridade. Portanto, idolatria é tudo aquilo que, em nosso coração, tira a primazia de Deus.

O futebol tem se mostrado um dos principais geradores de ídolos na sociedade contemporânea. Milhares de torcidas organizadas e fã clubes podem ser encontradas ao redor do mundo. De fato, o futebol está tão profundamente enraizado no coração dos seus seguidores que sua prática geralmente tornar-se prejudicial aos seus praticantes e torcedores, alcançando níveis de fanatismo que resultam em ciúmes, brigas, badernas, vandalismos, lesões corporais e até homicídios. Há indivíduos cujo estado emocional se altera drasticamente ao ouvirem críticas direcionadas a seu time que ficam transformadas com o pecado da ira; outros chegam a cometer atos violentos e até matarem em nome do futebol.

Atualmente, jogadores e clubes são objeto de adoração. Os fiéis vestem uniformes, formam torcidas organizadas e exaltam aqueles que jogam melhor em campo ou se mostram superiores em comparação com os demais. Levantar bandeiras, cantar hinos, soltar fogos e festejar durante horas também fazem parte do culto futebolatra. É impressionante observar quantas pessoas se aglomeram em estádios para venerar continuamente seu time. Como pode um cristão que se considera espiritual e santo — especialmente salvo — estar inserido nesse contexto quando Deus frequentemente exorta em Sua Palavra para que ele se separe do sistema mundano com suas práticas carnais (1Jo 2.15-17; Tg 4.4)? As pessoas choram, gritam e ficam profundamente emocionadas ou até apresentam quadros depressivos diante das derrotas de seus times; vivem uma intensidade emocional extrema por amor à sua equipe. Portanto, é evidentemente indiscutível que o futebol instiga a idolatria, e “ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os que se prostituem, os assassinos, os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira” (Ap 22.15).

4º - Feitiçaria. Originada do grego “pharmakeia”, a terminologia feitiçaria significa: espiritismo, magia negra, invocação e adoração de demônios, bem como o uso de substâncias e outros materiais na prática dessa atividade (Êx 7.11,22; 8.18; Ap 9.21; 18.23). Surpreendentemente, o futebol está ligado a feitiçaria. Tendo suas raízes no meio pagão, como no antigo Egito, é de se esperar que este esporte esteja vinculado a rituais religiosos antigos e práticas de crenças pagãs. Embora as questões espirituais sejam atualmente tratadas de maneira mais discretas dentro dos gramados para não sofrerem tanta oposição, fora deles, a realidade se mostra bem diferente.

O futebol está intimamente ligado ao mundo espiritual. É notável o poder e a influência que exerce sobre os torcedores, os vícios que surgem e o que são capazes de suportar para assistir seus times em locais remotos, além do envolvimento intenso dos fãs com o esporte. É comum ver jogadores portando santinhos ou terços e até ajoelhando-se para “rezar” nos jogos, buscando uma suposta bênção para que suas equipes vençam; muitos torcedores também compartilham desse tipo de superstição.

Foi constatado que vários clubes de futebol possuem um mascote relacionado ao candomblé. Entidades demoníacas são invocadas durante cada partida e muitas vezes são realizados despachos atrás do goleiro adversário para convocar forças sobrenaturais que possam influenciar no resultado da partida. Entre vários clubes, na camisa de um time brasileiro [Vasco da Gama], por exemplo, há a representação do “Edie”, cuja tradição está ligada a um homem falecido invocado pela banda satanista “Iron Maiden”; dessa forma, os torcedores trazem em suas vestimentas a invocação de alguém já morto. Isso é Espiritismo e feitiçaria. A Bíblia alerta ao crente salvo: “que comunhão há entre as trevas e a luz?” (2Co 6.14), pois "as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios e não a Deus. E não quero que vocês tenham comunhão com os demônios. Vocês não podem beber do cálice do Senhor e do cálice dos demônios; não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Porventura irritaremos o Senhor? Somos mais fortes do que Ele?” (1Co 10.20-22).

5º - Inimizade. Proveniente do grego “echthra”, o termo “inimizade” é entendido como antipatia; estar em conflito ou oposição a outra pessoa, almejando sua derrota. Inimigos se empenham um contra o outro. No contexto do futebol, constata-se regularmente a promoção de intensas brigas, divisões e alienação entre jogadores, torcedores e dirigentes. A Bíblia diz que o cristão deve ser inimigo somente do mal, enquanto nutri amor por todos aqueles que se posicionam como seus inimigos. O Senhor Jesus proclamou: “Eu, porém, vos digo: Amem os seus inimigos, bendigam aqueles que os maldizem, façam o bem aos que os odeiam, e orem por aqueles que os maltratam e os perseguem, para que sejam filhos do vosso Pai que está nos céus...” (Mt 5.44-45 - ARC 1969). O desejo de Cristo é que Sua Igreja mantenha-se unida; em contraste com isso, a inimizade e as rixas entre equipes e torcedores destroem relacionamentos e induzem as pessoas a praticarem atos cruéis. Essa condição alimenta o ódio, brigas, vingança e muitos outros pecados contra o próximo.

Essa realidade era substancialmente diferente no princípio da criação, quando Deus fez os seres humanos para conviverem coletivamente em paz e harmonia; não havia conflitos, disputas e competitividade entre as pessoas. O pecado foi o fator que corrompeu essa relação humana original, refletindo seus efeitos prejudiciais em uma natureza bastante íntima, a carne. As únicas batalhas do cristão convertido e transformado pelo Espírito Santo são travadas contra sua natureza pecaminosa (Gl 5.13), contra o sistema ímpio deste mundo (Tg 4.4; Rm 12.2) e contra Satanás e suas forças malignas (Mc 16.17; Ef 6.12). Não cabe ao servo(a) de Deus entrar em conflito com seus irmãos em Cristo ou com seu próximo de qualquer forma.

6º - Porfia. Conquanto todas as obras da carne estejam presentes no futebol, tanto em sua vertente profissional quanto amadora, a prática que mais se sobressai é a porfia. Derivada do grego “eris”, o conceito de porfia significa: disputa de qualquer natureza; oposição; competição, rivalidade e pleitos.

Aqueles que praticam o futebol estão em constante competição; disputam entre si; rivalizam com outras equipes; pleiteiam com os demais; almejam equiparar-se a outros jogadores e buscam superação. Tais performances já eram observadas desde os tempos do tsu-chu (na China), do kemari (no Japão), do episkiros (na Grécia Antiga e em Roma), do harpastum (em Roma), do soule (na França) e do cálcio (praticado pelos militares do Império Romano), estendendo-se até os jogos amadores e profissionais da nossa época.

Diferentemente do futebol, a Palavra do Senhor ensina o filho(a) de Deus a adotar uma postura humilde: “Não façam nada por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3). Um verdadeiro cristão é espiritual, pacífico e busca sempre promover harmonia e união. As disputas e competições representam obras da carne que fomentam desunião e competitividade, sendo que uma partida de futebol é marcada pela disputa, pela competição entre equipes, acompanhada por torcidas adversárias. Torcer para um time ou participar de uma partida sem incorrer à prática do pecado da porfia é algo inviável. Paulo menciona a porfia na lista das obras da carne e conclui afirmando que aqueles que a praticam não herdarão o reino dos céus (Gl 5.21).

7º - Emulação. Originado do grego “zelos”, o termo “emulação” presente no texto de Gálatas 5.20 refere-se: ao ciúmes que não surgem apenas pela ausência de algo, mas sim pelo fato de outra pessoa possuí-lo; trata-se da inveja amarga pelo êxito alheio; um sentimento elevado de competição que impulsiona um indivíduo a tentar igualar ou superar outro; significa concorrência e a busca por uma posição superior.

No mundo do futebol, tanto em sua esfera profissional quanto amadora, essas dinâmicas geralmente se manifestam. O jogador que ocupa a posição de reserva sente ciúmes daquele que é titular, um atleta menos reconhecido nutre inveja daquele que é idolatrado, o time que alcança vitórias gera ciúmes no adversário derrotado, e os torcedores da equipe perdedora experimentam ciúmes em relação ao time vencedor. É importante notar que “ciúmes, emulações, disputas e invejas” são elementos comuns no universo do futebol e todas são reflexos da natureza pecaminosa inerente ao ser humano.

Nesse ambiente [futebol], muitas vezes as pessoas buscam imitar umas às outras não necessariamente por respeito e admiração, mas devido à presença egoísta dos ciúmes. O desejo de alcançar o mesmo sucesso, fama ou riqueza e de serem igualmente idolatradas é predominante. Não sentem satisfação com as realizações dos outros; ao contrário, são consumidas pela inveja. Assim, esforçam-se para imitá-las, competir contra elas e ocupar suas posições. Permanecem insatisfeitas até conquistarem aquilo que outro possui ou participarem do time mais destacado para ostentarem e se mostrarem superiores. Essa dinâmica resulta em conflitos e animosidade em todas as esferas futebolísticas.

A Bíblia orienta: “Digo, porém: Andem no Espírito e não satisfaçam a concupiscência da carne” (Gl 5.16). “Pois se viverem segundo a carne, vocês morrerão; mas se pelo Espírito mortificarem as obras do corpo, vocês viverão”. E finaliza afirmando: “Porque todos que são guiados pelo Espírito de Deus, estes são filhos de Deus” (Rm 8.13-14).

8º - Ira. Originária do grego “thumos”, a expressão ira refere-se à fúria que se manifesta através de palavras e ações agressivas; raiva; um sentimento intenso e duradouro de ódio que pode desencadear situações de hostilidade.

Desde seus primórdios, a violência tem estado intimamente ligada ao futebol. Não se trata apenas de incidentes recentes que corroboram essa afirmação, mas também das modalidades que serviram como precursoras do futebol contemporâneo, as quais já apresentavam características violentas. Um exemplo é o tsu-chu da antiga China — uma forma de jogo onde, após vencerem batalhas, os chineses decapitavam seus inimigos, transportavam suas cabeças para os campos e formavam equipes para chutá-las; na Idade Média, o harpastum e o soule eram praticados por militares em jogos que permitiam pontapés, socos, rasteiras e outros golpes brutais, resultando constantemente em mortes durante as competições.

Nos dias atuais, a situação se mostra menos violenta, embora isso não indique que tenha sido alterada. O futebol continua sendo um palco de violências, tráfico de drogas, homicídios e crimes variados. Diversos incidentes ocorrem tanto em quadras quanto em estádios e entre torcidas organizadas. É comum observar jogadores se agredindo verbal e fisicamente entre si, árbitros sendo alvo de difamações e torcidas envolvidas em confrontos que podem culminar até mesmo em fatalidades.

A ira está diretamente relacionada ao futebol, levando muitas pessoas a adotarem comportamentos agressivos devido aos resultados dos jogos. A Bíblia contrasta com esse panorama ao afirmar: “Bem-aventurados os pacificadores” (Mt 5.9). O cristão é filho do Deus de paz (Mt 5.9) e deve, portanto, ser uma pessoa pacífica; isto é, viver em harmonia e promover a paz entre as pessoas sem se tornar causa de desentendimentos ou incentivá-las a contendas: “Se for possível, quando depender de vocês, tenham paz com todos os homens”, “…pois Deus nos chamou para vivermos em paz”. Além disso: “…vivam em paz. E o Deus de amor e paz será convosco” (Rm 12.18; 1Co 7.15; 2Co 13.11 cf. Sl 37.8). Porém, no futebol esse princípio bíblico não encontra aplicação prática. Após os resultados dos jogos, o que comumente se percebe são iras, disputas acaloradas e agressões tanto verbais quanto físicas.

9º - Discórdia. Proveniente do grego “dichónoia”, a palavra discórdia refere-se à ausência de acordo; à falta de entendimento; à desavença; à cizânia; e ao ato de opor-se. A discórdia no futebol emerge por diversos fatores sociais, culturais e emocionais. Este esporte comporta rivalidades acirradas entre clubes, torcedores e até países, usualmente alimentadas por sentimentos de pertencimento, competição e paixão. Além disso, questões como decisões polêmicas da arbitragem, condutas inadequadas de jogadores, violência entre torcedores e interesses financeiros exacerbam os conflitos. O futebol transcende o esporte, tornando-se um campo para expressões de identidade e, às vezes, em cenários de disputas pessoais ou coletivas, especialmente em contextos caracterizados pela polarização social. Esses fenômenos resultam invariavelmente em reações adversas às opiniões divergentes (cf. Rm 2.8; 2Co 12.20; Fp 1.17; 2.3).

Partindo do pressuposto de que um simples torneio ou partida de futebol configura-se em uma manifestação de discórdia e serve como um espaço para expressões identitárias, as repercussões provenientes dos jogos vão além dos gramados e das próprias competições esportivas. Após as partidas, seus efeitos permanecem na vida dos torcedores e na sociedade em geral. Dessa forma, é comum observar indivíduos se provocando e ofendendo uns aos outros. Tais discussões são suscetíveis a provocarem rixas, hostilidade e ressentimentos profundos. A linguagem, nesse contexto, torna-se um instrumento comunicativo potencialmente perigoso (Tg 3.6-8). O uso inadequado das palavras ou gestos pode transformar situações simples no meio futebolístico em conflitos significativos. Ademais, entre as torcidas não existe concórdia alguma. As divergências ocorrem incessantemente: “qual é o melhor time; qual clube possui mais títulos, troféus e campeonatos conquistados; qual conta com os melhores e mais renomados jogadores; qual tem mais torcedores; qual uniforme é mais bonito”, entre outras questões semelhantes. Não há harmonia entre clubes, jogadores e torcedores: “haverá ira e indignação para aqueles que são contenciosos, que desobedecem à verdade e seguem à iniquidade” (Rm 2.8).

10º - Dissensão. A palavra tem sua raiz no grego “dichostasia” e refere-se a: “Divisão, divergência, contraste, discordância, desvio; comportamento antagônico, estar à parte e recusar-se a se unir”. A “dichostasia” representa um fenômeno social que leva as pessoas a se isolarem, nutrindo ressentimento em relação aos outros, desenvolvendo aversão à outra parte e percebendo os demais como adversários. Esse processo converte um grupo anteriormente coeso em duas entidades opostas: “eu e você”, “nós e eles”, “a favor e contra”, “esquerda e direita”, “os do bem e os do mal” ou “amigos e inimigos”.

Atualmente é comum nos depararmos com divisões e segregações que permeiam as relações entre pessoas, classes sociais, partidos políticos e etnias, assim como as desuniões existentes no futebol, manifestadas através de equipes, torcidas e campeonatos. Há essas divisões para haver disputas e rivalidades, caso contrário, o futebol deixaria de ser uma competição. E por ser mais que uma mera atividade esportiva, o futebol configura uma forma de identidade coletiva, em que torcedores criam laços profundos com clubes ou seleções, fazendo com que disputas sobre partidas, decisões de árbitros ou comportamento de jogadores se tornem questões pessoais e/ou coletivas.

A divisão está associada diretamente ao futebol. Clubes e seleções, muitas vezes, refletem divisões sociais, políticas e econômicas, exacerbando ainda mais conflitos existentes na sociedade. A cobertura da mídia muitas vezes amplifica polêmicas e rivalidades, criando narrativas que alimentam divisões entre torcedores e até mesmo países. Em algumas culturas, o futebol é usado como palco para tensões políticas ou regionais. O esporte atua como um mecanismo que favorece a alienação em detrimento da harmonia social, da união e do consenso interpessoal ao estimular desigualdades sociais, regionais e até étnicas.

Entretanto, na Bíblia, até mesmo o desejo final por vencer partidas é contraditório aos princípios éticos estabelecidos por Deus (Fp 2.3-4). No livro de Romanos 16.17-18 está escrito: “Recomendo-lhes, irmãos, que notem os que promovem divisões e escândalos contra a doutrina que vocês aprenderam. Desviem-se deles. Pois essas pessoas não servem a nosso Senhor Jesus Cristo...”. A Palavra do Senhor também alertou que nos últimos dias as pessoas estariam cada vez mais divididas por conta do egoísmo individualista e pela ausência do Espírito Santo (Jd 1.19). O Espírito de Deus promove unidade e amor em oposição à divisão, rivalidade e disputa; Ele é um Deus de paz e não de confusão (1Co 14.33). A união constitui um princípio indispensável para contribuir com a unidade e edificar o próximo (1Co 10.23).

11º - Inveja. Oriunda do grego “fthonos”, a expressão inveja denota, por si mesma, o sentimento de descontentamento em relação ao que o outro é ou possui; representa o desgosto causado pela felicidade alheia e o desejo incontrolável de adquirir ou desfrutar aquilo que pertence a outrem. A inveja se caracteriza como um sentimento intenso e mal, que a pessoa tem de querer possuir o que é dos outros. O sistema ímpio do mundo está “...cheios de inveja...” (Rm 1.29), e o futebol, assim como outras modalidades esportivas que envolvem competição, fazem parte desse sistema.

Futebol é um mundo marcado pela ostentação, soberba, vaidade e exibicionismo. Um atleta que se destaca e atua em um clube renomado, que possui automóveis importados e recebe altos salários, frequentemente suscita inveja entre jogadores menos favorecidos, aqueles que não conseguem ascender em suas carreiras esportivas ou outros que permanecem no anonimato. Um time com múltiplos títulos desperta ciúmes entre as equipes que não alcançaram êxito. Torcedores exibem camisas e faixas de times que venceram para provocar a inveja dos fãs rivais. Um jogador que consegue marcar um gol pode facilmente ser alvo de inveja por parte daquele que não conseguiu fazê-lo. Esses pontos refletem a maldade presente nos olhos e no coração tanto daqueles que provocam como naqueles que sentem inveja, pois “aquele que tem olhos invejosos corre atrás das riquezas, mas não sabe que há de vir sobre ele a pobreza” (Pv 28.22).

A inveja, enquanto obra da carne, permeia o universo futebolístico; logo, o verdadeiro cristão deve evitar qualquer participação nas obras da carne e nas práticas ímpias do mundo: “Porque ainda são carnais: pois se há entre vocês inveja, contendas e divisões, não são porventura carnais e não estão agindo como mundanos?” (1Co 3.3). “Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24).

O FUTEBOL E O AMOR AO PRÓXIMO

No trecho de Mateus 22.36-40, um doutor da lei questionou o Senhor: “Mestre, qual é o grande mandamento da lei?” Jesus respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e maior mandamento. O segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.” Um verdadeiro filho de Deus deve amar a todos (Gl 6.10; 1Ts 3.12), incluindo aqueles que se declaram seus inimigos (Mt 5.44). Além disso, deve ter um amor especial pelos autênticos cristãos que experimentaram o novo nascimento (Jo 13.34; Gl 6.10; cf. 1Ts 3.12; 1Jo 3.11).

O amor do crente por seu irmão em Cristo, por seu próximo e mesmo por seus adversários, deve ser subordinado e orientado pelo seu amor e devoção a Deus. Esse amor, conforme os preceitos divinos, visa ao bem do próximo em todos os sentidos, tanto em relação aos irmãos em Cristo quanto à sociedade como um todo; não se trata de um impulso emocional ou de uma manifestação das inclinações naturais, nem se limita àqueles com quem há afinidade pessoal. O amor genuíno busca o bem-estar de todos (Rm 15.2) e não causa mal algum a ninguém (Rm 13.8-10); ele procura oportunidades para realizar ações benéficas para todos, especialmente aos domésticos da fé (Gl 6.10).

Portanto, é dever cristão amar o próximo como a si mesmo, e não está coerente com os ensinamentos bíblicos a prática do crente em competições esportivas nas quais ele precisa vencer derrotando seu próximo – ainda que isso ocorra em um contexto lúdico e descontraído –, pois tal ato pode levar à humilhação do outro. Durante um jogo ou torneio, uma derrota pode provocar sentimentos de desânimo na pessoa vencida e resultar em zombarias e opressão por parte dos torcedores contrários, comportamentos secularmente comuns nesses eventos esportivos. Se para triunfar em um jogo for necessário derrotar o seu próximo, que tipo de amor seria esse?

Ademais, quando alguém experimenta uma derrota frequentemente sente-se impulsionado a reverter essa experiência negativa em futuras competições para evitar nova frustração; isso fomenta uma mentalidade competitiva exacerbada. Logo, devido a essas inclinações carnais, o futebol acaba servindo como um instrumento utilizado pelo diabo e seus demônios para fomentar rivalidades entre as pessoas. No sistema mundano, qualquer aspecto sob sua influência pode ser manipulado para instaurar desigualdade, desunião e hostilidade.

Será essa situação espiritualmente saudável? Edifica o crente? A resposta é evidente: não apenas não é saudável, como também não edifica os crentes enquanto corpo de Cristo; aquele que ama exalta seu próximo ao invés de tentar derrotá-lo ou humilhá-lo em qualquer sentido. As nossas atitudes em relação às pessoas que amamos devem ser pautadas pela cordialidade e pela busca do bem-estar delas desde que tal conduta esteja em conformidade com os princípios bíblicos — sendo um reflexo deles próprios ao invés de contradizê-los. A prática do futebol leva facilmente os crentes a adotar posturas antagônicas à fé cristã e ao amor por Deus e pelo próximo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

À luz dos aspectos observados, chega-se à conclusão de que, assim como em outras modalidades esportivas nas quais não convêm que os filhos de Deus se envolvam, o futebol igualmente abrange quase todas as obras da carne, configurando-se, portanto, como uma atividade secular destinada a pessoas não convertidas. E sendo uma partida de futebol marcada por obras carnais, a Palavra do Senhor exorta: “A inclinação da carne é morte [...] e é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem verdadeiramente pode sê-lo. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.6-8). “Vocês, irmãos, foram chamados para serem livres. Não usem, portanto, a liberdade para dar ocasião à carne, mas sirvam uns aos outros pelo amor” (Gl 5.13). Assim sendo, sob a ótica bíblica, não há harmonia alguma entre a fé cristã e o futebol. Todas as disputas, desuniões, brigas, desavenças, contendas e ofensas verbais — além de tragédias fatais — são evidentes nas partidas de futebol e estão em franca oposição à vontade de Jesus — o Filho de Deus (Lc 6.27-33; 35-36).

A intenção subjacente à participação em uma atividade competitiva contra outra pessoa visa apenas alcançar vitórias e derrotar o oponente; demonstrar superioridade e exibir habilidades superiores ao outro competidor; mostrar-se mais poderoso ou resistente que o opositor — enfim “melhor” do que ele — seja individualmente ou coletivamente. Contudo, como pode um filho(a) de Deus concordar ou praticar esses tipos de esportes? As raízes futebolísticas promovem apenas o fanatismo, o exibicionismo, a emulação, a porfia, entre outros.

No que tange à saúde física, realmente o futebol é uma atividade que proporciona benefícios aos sistemas cardiovascular e mental. Exercícios físicos realizados regularmente estimulam o sistema imunológico e contribuem para a prevenção de doenças [como cardiopatias e diabetes tipo 2], moderam os níveis de colesterol e ajudam na luta contra a obesidade. Além disso, favorecem a saúde mental e podem prevenir episódios depressivos. No entanto, o cerne da questão não reside na prática da atividade física em si mesma; está nas atitudes pecaminosas que essa prática promove. Por tal razão esse princípio também deve ser aplicado quando se considera sua utilização como forma de lazer ou entretenimento. Para assegurar uma boa manutenção da saúde física o cristão pode optar por praticar de forma descente outros exercícios físicos, os quais convém a crentes salvos — evitando práticas que vão lhe sujeitar ao pecado ou servir como estímulo para outros pecarem também. De nada adianta um crente cuidar do seu corpo físico se isso comprometer sua saúde moral e espiritual, bem como seu relacionamento com Deus e sua salvação eterna. Isso porque a prática habitual das transgressões listadas entre as obras da carne sem um devido arrependimento e conversão, já é capaz de nos usurpar o reino do céu: “Repito o que eu já disse antes: que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.21). Essa lista, embora extensa, não está exaustiva, pois não esgota todas as obras da carne, uma vez que Paulo conclui dizendo: “... e coisas semelhantes a estas” (v 21). Há também outras listas de pecados semelhantes a essa nos escritos de Paulo que podem ser caracterizadas como obras da natureza caída do ser humano (Rm 1.18-32; 1Co 5.9-11; 6.9; 2Co 12.20,21; Ef 4.19; 5.3-5; Cl 3.5-9; 1Ts 2.3; 4.3-7; 1Tm 1.9,10; 6.4,5; 2Tm 3.2-5; Tt 3.3,9,10).

A Bíblia por si só fornece todo conhecimento necessário para nossa salvação e serve como padrão para avaliar qualquer comportamento cristão (2Tm 3.16-17). Portanto, cabe a cada crente julgar diligentemente todos os esforços humanos assim como seus ensinamentos e frutos derivados deles aceitando somente aquilo que estiver nitidamente alinhado com toda a Palavra de Deus. Embora algo possa não estar explicitamente registrado nas Escrituras Sagradas, se suas práticas contradizem um princípio ou mandamento bíblico ou ainda induzam ao pecado, deve ser prontamente rejeitado pelo cristão. Este princípio refere-se ao fato de “algo ser lícito mas inconveniente” (1Co 6.12). São numerosas as situações que embora não sejam pecaminosas em si servem apenas como pontes que conduzem ao pecado. Em razão disso, cabe ao cristão discernir moral e espiritualmente (1Co 2.9-16) que tanto o futebol quanto outras modalidades esportivas divergem significativamente dos princípios bíblicos, e levam as pessoas a terem atitudes incompatíveis com a fé e a boa conduta cristã. Ninguém consegue envolver-se direta ou indiretamente nesse esporte sem violar padrões comportamentais exigidos pela Bíblia submetendo-se assim às práticas ímpias.

A Bíblia afirma categoricamente que um verdadeiro cristão encontra-se separado da impiedade (Ml 3.18 ;2Co 6.14-18) e participa da natureza divina (2Pd 1.4). Essa nova natureza impulsiona-o na busca pelas coisas que são de cima (Cl 3.1). O crente não se inclina para as coisas da carne, mas somente para as do Espírito (Rm 8.5). Por esse motivo ele aceita de coração a separação do mundo imposta pela cruz de Cristo (Gl 6.14). Jesus disse que seus discípulos estavam no mundo (Jo 17.11), porém não faziam parte do mundo (Jo 17.14). A amizade com o mundo é inimizade contra o Senhor (Tg 4.4), e quem amar o mundo, o amor do Pai não está nele (1Jo 2.15,16).

O servo(a) de Deus somente conseguirá triunfar sobre o mundanismo e as obras da carne ao se sujeitar aos ditames do Espírito Santo e ao fugir destas práticas! Sim, fugir da aparência do mal e das tentações e inclinações da carne; e refugiar-se na oração, na leitura da Palavra de Deus, no jejum e, finalmente, na santificação.