O Semeador e a Semente

Ir. Eric Alexandre

“Os que semeiam em lágrimas colherão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” Salmos 126.5-6.

O Espírito Santo trabalha poderosamente em conexão com a Palavra de Deus. Enquanto o semeador está dormindo, a Palavra de Deus está agindo secreta, poderosa, constante, e eficazmente nos corações para uma grande colheita.
A missão do pregador (semeador) é pregar, aonde quer que seja, pregar; depois de anunciar a mensagem, o pregador pode até ir embora, mas aquela mensagem fica semeada germinando nos corações, e o seu crescimento quem dá é Deus, não sabendo o ser humano como.

O DESENVOLVIMENTO DA SEMENTE
Marcos 4.26-29 está escrito: “...o reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra. E dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse não sabendo ele como. Porque a terra por si mesma produz, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga. E, quando o fruto já se amostra, logo mete-se-lhe a foice, porque chegou à colheita”.

O semeador não pode fazer a semente germinar como também não sabe como ela germina; ele não entende o processo do seu crescimento, e, embora não veja inicialmente nenhuma evidência e resultado do seu labor, a semente trabalha por si mesma no ventre da Terra. Ela possui vida em si, porque é a Palavra do Deus vivo e prospera naquilo para que fora enviada (Is 55.11).

Na passagem em questão, vemos o misterioso poder de desenvolvimento da semente no seio da Terra. Da mesma forma, Deus é o autor do crescimento espiritual na vida do ser humano, já que cada pessoa, por si só, é incapaz desse desenvolvimento sozinha, mas pela intervenção do Senhor, ela consegue se voltar para Deus e ter uma fé verdadeira (Ez 11.19-20; 37.5-6).
    O semeador pode até semear a semente, mas não pode fazê-la brotar. Somente Deus pode produzir vida e dar o seu crescimento. Frente a isto, Paulo disse: “Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem realizou o crescimento. Por isso, nem o que planta e nem o que rega são alguma coisa, mas Deus, que realiza o crescimento. Porque nós somos cooperadores de Deus; e vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus” (1Co 3.6-7, 9).

O dever de todo cristão — sem exceção — é semear a Palavra de Deus (Mc 16.15), porém, apesar do seu labor, Deus é o único que pode fazer o Seu reino crescer apropriadamente. Somente Jesus pode construir adequadamente a Sua própria igreja; o Senhor é quem acrescenta dia a dia aqueles que vão sendo salvos (At 2.47). Todo esforço humano seria insuficiente para converter sequer uma alma (Mt 19.25-26).

A SEMENTE E OS SOLOS
O Senhor Jesus ensinou que o segredo do crescimento é confiado a Terra. Há diferentes tipos de solos que apontam para quatro tipos de corações ou quatro diferentes reações à Palavra de Deus. Não entendemos plenamente o por que a semente produz resultados gloriosos numa vida e morre em outra. Não se pode explicar todos os detalhes e segredos da intervenção milagrosa de Deus no coração humano que ouve a Palavra. Todavia, a igreja de Cristo está incumbida da missão de semear em todos os tipos de solos (corações) sem fazer distinções entre eles: “...ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura (Mc 16.15).

A parábola do semeador chama a atenção na forma como ele semeava a semente. Ele não a distribuía apenas nos solos que aparentavam estar mais férteis e preparados, ele deixava cair sementes propositalmente em solos que, em sã consciência, ninguém semearia semente alguma: à beira do caminho, em solo rochoso, e entre espinhos. O semeador trata em sua especificidade de três tentativas fracassadas e uma tentativa de sucesso.
     Contudo, precedendo o ato de sair para semear, a primeira tarefa do semeador é identificar-se como semeador e saber de sua missão (Mt 28.19; Jo 15.16). Mesmo que deveriam, não são todos que decidem semear. Alguns, mesmo tendo sementes, preferem guardá-las não usando-as, e claro, desagradam a Deus agindo assim; é preciso sair para semear: “...o machado está posto à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo” (Mt 3.10). Conforme: Ez 33.6-9; Lc 13.6-9; Jo 15.2.

O cristão semeador deve semear a Palavra em todo tipo de solo que tiver oportunidade. Deus cuida do crescimento e não quem semeia. O semeador apenas semeia, o crescimento da semente não deve preocupá-lo (1Co 3.6-7). Assim, cada cristão deve refletir a respeito do ser semeador, do buscar ter sementes, e do semear com poder e autoridade espalhando-as nos mais diversos locais e não somente naqueles que aparentam ser os mais férteis.

DEUS É QUEM CONCEDE SEMENTES AO SEMEADOR
A semente tratada neste estudo refere-se a Palavra de Deus (Lc 8.11), portanto, devemos buscar dedicadamente em Deus ter sementes (capacitação) através de estudos bíblicos, oração e obediência a Palavra de Deus, pois é Ele quem concede ao genuíno pregador a Sua Palavra.

Em Isaías 55.10 está escrito: “A Palavra que sai da boca do Senhor, é como a chuva e a neve que descem dos céus e para lá não voltam mais, antes, regam a terra e a faz brotar e florescer, a fim de que ela produza sementes ao semeador”. Toda boa dádiva provém de Deus, e até aquilo que o crente produz, produz através do Senhor; e quando planta, até mesmo suas sementes vêm de Deus: “Ora, Aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça” (2Co 9.10).

O cristão não deve sentir-se incapaz de pregar ou falar para outras pessoas sobre a Palavra de Deus, porque é o Senhor quem o capacita tanto no querer quanto no realizar (Fp 2.13). Embora deva se dedicar aos estudos bíblicos, a oração, jejum, e revestimento do Espírito Santo para ser usado por Deus da melhor forma possível, é o Senhor quem vai capacita-lo para superar qualquer limitação e se livrar de qualquer dificuldade (Js 1.6-9). Basta somente se apresentar a Deus “como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da verdade” (2Tm 2.15) e estar sempre preparado para "responder a todo aquele que lhe pedir razão da esperança que há em nós" (1Pe 3.15). Essa preparação só se dá por meio do estudo sério e diário da Palavra de Deus, se consagrando e estando em sujeição a gestão do Espírito Santo (Lc 4.18-19; At 13.2) que, até nos momentos mais difíceis, o Senhor ministrará em sua boca (Lc 12.11-12).

A PALAVRA DE DEUS NÃO VOLTA VAZIA
Isaías 55.11 está escrito: “Assim será a minha Palavra que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me agrada, e prosperará naquilo para que a enviei”.
     Deus é comprometido com a Sua Palavra (Jr 1.7-12). Quando —realmente— é Ele quem está falando na boca do pregador, Ele tem compromisso com a Sua Palavra, pelo que ela fará o que Ele quer, o que lhe agrada; e como resultante, prosperará naquilo para que fora enviada (Nm 11.23; Jr 1.12). Obviamente, devemos considerar que, a Palavra causa diferentes efeitos nos corações das pessoas, Deus não força ninguém a aceita-Lo. No contexto de Marcos 4.3-20, compreendemos isso muito bem ao ver que o coração humano precisa ser uma Terra boa para receber a Palavra de Deus, germinar e produzir muitos frutos, uma vez que é no coração do homem que Deus semeia a Sua Palavra. A parábola do semeador enfatiza tanto o lugar onde a semente caiu, quanto os diferentes efeitos sofridos pela semente.

A CAPACITAÇÃO PRECEDE A AÇÃO
Quando Jesus fora batizado por João Batista, Ele, que posteriormente batizaria seus discípulos no Espírito no Pentecoste e durante toda a era da igreja (ver Lc 3.16; At 1.4,5; 2.33,38,39), Ele mesmo pessoalmente foi ungido (Mt 3.16,17; Lc 3.21,22) e revestido de poder pelo Espírito afim de começar a exercer o seu ministério. O Espírito Santo ungiu Jesus e o capacitou para a sua missão. Jesus era Deus (Jo 1.1), mas Ele também era homem (1Tm 2.5). E como homem, Ele dependia da ajuda e do poder do Espírito Santo para cumprir as suas responsabilidades diante de Deus (cf. Mt 12.28; Lc 4.1,14; Rm 8.11; Hb 9.14). (2) Somente como homem ungido pelo Espírito, Jesus podia viver, servir e proclamar o evangelho (At 10.38).

Os nomes “Messias” (hebraico), e “Cristo” (grego) significam ambos “o Ungido” (ver Mt 1.1 nota). Tudo quanto Cristo fazia era pela unção do Espírito Santo: “E deram a Jesus o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, me enviou a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.17-19).

O Senhor Jesus foi poderosamente ungido pelo Espírito Santo a fim de cumprir a vontade do Pai e de trazer plena salvação às nações (61.1; Mt 3.16,17; Jo 1.33,34). A fim de executar o seu plano da salvação, Cristo também batiza e unge os seus seguidores no Espírito Santo. Esse é um requisito fundamental na obra contínua da redenção que a igreja empreende (Mt 3.11; Lc 3.16; At 1.5).
     Desde o batismo de Jesus até o dia de Pentecoste, o Espírito estava sobre o Cristo (i.e., o Ungido de Deus; cf. Lc 3.21,22; 4.1,14,18,19). Estando Jesus agora à direita de Deus, vive para derramar o mesmo Espírito sobre aqueles que se dispõe a trabalhar na expansão do reino de Deus. O servo(a) do Senhor deve ser uma ferramenta apta nas mãos de Deus, pronto para servir e trabalhar na edificação do corpo de Cristo e dar a sua vida pelo Evangelho, se for preciso.

“...e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como” (Mc 4.27). Uma vez que todo o processo de desenvolvimento realizado desde a semente até a sua germinação procede de Deus, o semeador tem o encargo de se dirigir a Ele lhe pedindo sementes afim de semeá-las na lavoura. É fundamental o servo(a) de Deus semear a Sua Palavra com unção e poder oriundos de revestimento do Espírito Santo. Pois, o verdadeiro ministério é ungido por Deus, capacitado por Deus e formado por Deus. O Espírito de Deus está sobre o pregador, ungindo-o de poder, o fruto do Espírito está no seu coração, o Espírito de Deus vitaliza o homem e a palavra; e sua pregação dá vida: “Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus. Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito...” (2Co 3.5-6).
     O pregador(a) que ministra vida é um homem de Deus, cujo coração tem sempre sede de Deus, cuja alma está buscando a Deus constante e intensamente, cujos olhos estão postos só em Deus e em quem, pelo poder do Espírito de Deus, a carne e o mundo foram crucificados e seu ministério é como a corrente abundante de um rio que dá vida.

Antes de Jesus enviar a igreja para evangelizar o mundo, enviou o Espírito Santo para revestir a igreja (Lc 24.49). A obra do Espírito Santo e a evangelização da igreja são inseparáveis. Evangelizar sem o poder do Espírito Santo é como tentar cortar lenha com o cabo do machado. Em vão é o esforço humano sem o trabalhar do Espírito Santo: “...Não é por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6b). Apenas através da atuação do Espírito Santo uma pessoa pode ser convertida da impiedade à Deus (Jo 16.7-11).
     Em Lucas 24.49, o Senhor ordena os apóstolos a aguardarem o revestimento do Espírito antes de saírem para pregar o evangelho (At 1.4). Portanto, aqueles que desejam o derramamento do Espírito de Deus em suas vidas almejando poder e unção para realizarem a obra de Deus, devem se colocar à disposição do Santo Espírito mediante submissão à vontade de Deus e constante oração e jejum (At 4.29-31; Lc 11.13; Jo 7.37-39). Os primeiros cristãos jejuavam com regularidade (At 13.2). Paulo e Barnabé eram mestres, que juntamente com os demais líderes e obreiros da igreja em Antioquia, entendiam a importância espiritual do jejum. Oração, jejum, e estudo da Palavra são práticas necessárias para o equilíbrio entre intelectualidade e espiritualidade, saber e poder espiritual (Mt 17.21; Lc 4.1-2; At 6.3-4).

Note os paralelos entre a vinda do Espírito sobre Jesus e os discípulos:
a) O Espírito desceu sobre eles depois que oraram (Lc 3.21-22; At 1.14).
b) Houve manifestações visíveis do Espírito (Lc 3.22; At 2.2-4).
c) Os ministérios, tanto de Jesus, como dos discípulos, começaram depois que o Espírito Santo veio sobre eles: Mt 3.16, 4.1; Lc 3.21-22; At 2.1-4, 4.8).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como todo bom semeador, o cristão deve semear em todos os lugares possíveis sob o poder e atuação do Espírito Santo; pois, sair para semear a Palavra de Deus na força do braço humano é laborar em erro e obter magros resultados. Fazer a obra de Deus confiados em nossos próprios recursos desembocará em grande fiasco. Os discípulos aguardaram no Cenáculo, em perseverante oração, onde foram cheios do Espírito Santo e capacitados a realizarem a obra do Senhor, ao passo que a pregação tornou-se poderosa e eficaz: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2.47).