A Psicologia Cristã e o Evangelho
Ir. Eric Alexandre
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Na trajetória da igreja evangélica, nada tem induzido os crentes ao abandono da fé na suficiência da Palavra de Deus mais do que a pseudociência do aconselhamento psicológico.
A igreja evangélica da modernidade está atuando, acima de tudo, como um serviço de referência em aconselhamentos realizados por psicólogos e psiquiatras. Diversas congregações expressivas possuem psicólogos licenciados em seu quadro de funcionários. As agências missionárias estão cada vez mais exigindo que seus postulantes passem por avaliações e obtenham aprovação de psicólogos profissionais licenciados antes de serem aceitos no trabalho missionário. Psicólogos e conselheiros cristãos ganham notoriedade e respeito entre os evangélicos, superando os pregadores e educadores cristãos.
A maioria dos evangélicos está convencida de que a psicoterapia possui uma base científica e é necessária para complementar as lacunas deixadas pela Bíblia em relação às demandas mentais, emocionais e comportamentais. Dessa forma, pessoas que enfrentam problemas internos e interpessoais são incentivadas a buscar a orientação de um psicólogo ou a se submeterem à terapias, na expectativa de obter resultados pessoais e profissionais.
Nestes últimos dias, marcados por “tempos trabalhosos”, muitos crentes (e os números continuam crescendo) têm abandonado não apenas o “senso comum”, mas, o que é pior, têm descartado os mandamentos bíblicos e se rendido aos padrões contemporâneos da sociedade secular. A Cristandade atualmente enfrenta uma invasão do que denominamos “psicologia cristã”. Essa disciplina está sendo ensinada em diversas escolas bíblicas e servindo como inspiração para sermões em várias igrejas apóstatas. Seria, de fato, bastante incomum encontrar um sermão sem qualquer suposto “insight” de psicologia. Um exemplo emblemático é a Igreja Willow Creek, localizada nas proximidades de Chicago, que exerce influência tanto em nível nacional quanto internacional por meio de suas 10.000 associações de membros pertencentes a diferentes congregações.
Um pesquisador especializado nos métodos de crescimento e desenvolvimento das igrejas, que dedicou um ano à observação da dinâmica da Willow Creek, relatou: “[O Pr.] Hybels não apenas ensina princípios psicológicos, mas também os utiliza como diretrizes na interpretação exegética das Escrituras... O rei Davi enfrentou uma crise de identidade, o apóstolo Paulo incentivou Timóteo à autoanálise e Pedro lidava com questões relacionadas a limites pessoais”. O livro recordista de vendas de Rick Warren - “Uma Vida Com Propósito” - não só acolhe a psicologia dentro do contexto eclesiástico, como também propõe afirmações questionáveis, como “Sansão era codependente” e “A fraqueza de Gideão derivava de sua baixa autoestima e profunda insegurança”.
A Igreja foi incumbida por seu Salvador de proclamar o Evangelho aos pecadores e ensinar a Palavra aos fiéis. Assim, surge uma questão pertinente: seria a “psicologia cristã” uma maneira sofisticada de comunicar a Palavra de Deus ou seria, na verdade, uma mensagem distinta, ou seja, um engano disfarçado de verdade bíblica? Serão os fundamentos que sustentam a “psicologia cristã” diferentes daqueles da psicologia secular?
O intuito deste artigo não é questionar as intenções dos defensores da psicologia ou minimizar os problemas decorrentes de desequilíbrios químicos, mas sim examinar a verdade à luz das Escrituras e verificar se os fundamentos da psicologia cristã realmente não se contrapõem a determinados preceitos bíblicos. Serão abordados seis aspectos nos quais a “psicologia cristã” e a “psicologia secular” são idênticas, o que evidencia uma significativa distinção em relação ao Evangelho do Senhor Jesus Cristo, conforme expresso na Bíblia.
01. VÍTIMA OU PECADOR?
A psicologia moderna considera pessoas que enfrentam determinados problemas e deficiências pessoais como vítimas. As justificativas apresentadas incluem vivências de infância, questões familiares ou educacionais, como conflitos entre os pais, lares desfeitos, má educação e diversos tipos de abuso. O sofrimento interno de um paciente [vítima] manifesta-se por um comportamento de perturbação. Ele é levado a acreditar que foi afetado psicologicamente pela conduta de outrem. O raciocínio subjacente é o seguinte: um indivíduo com problemas faz com que os outros também tenham problemas.
A solução proposta consiste em proporcionar à pessoa afetada [vítima] um senso de valor próprio e a compreensão de que são os outros que causam seu sofrimento. A psicologia ensina que a falta de autoestima pode ser restaurada ao se compreender por meio de psicoterapias a origem da conduta perturbadora.
Por outro lado, o Evangelho não vê os seres humanos apenas como vítimas, mas sim como pecadores que padecem em consequência do pecado e da condenação divina sobre o mundo (Gn 3.17-19). Em vez de enfatizar o sofrimento interior, ele explícita a culpabilidade causada pelo pecado. Segundo o Evangelho, a questão não reside apenas na conduta ou nas emoções disfuncionais, mas numa desobediência intencional a Deus.
Enquanto uma vítima pode atribuir sua condição aos outros, um pecador deve reconhecer seu pecado. Uma mágoa psíquica decorre da responsabilidade atribuível a alguém pelo meu sofrimento. A culpabilidade implica que sou responsável por minhas escolhas, independentemente das circunstâncias adversas que as influenciaram. De acordo com a psicologia, se trata de uma conduta disfuncional que posso mudar ao corrigir meus sentimentos em relação a mim mesmo e às situações externas. Porém, segundo o Evangelho, a desobediência requer arrependimento em relação ao mal praticado e subsequente transformação de caráter e vida por meio da obediência a Deus e à Sua Palavra.
A Bíblia afirma que todos os homens são pecadores culpados [isto é, devem prestar contas por seus atos e escolhas] e sem justificativa (Romanos, caps 1 a 3). Todos recebem a ordem divina para se arrependerem e, um arrependimento de verdade, significa mudança de vida (At 17.30). Assim sendo, a solução não é subjetiva (baseada na fé em uma autocompreensão de nós mesmos), mas objetiva (fundamentada na fé no Salvador dos pecadores, Jesus Cristo) (Rm 3.21-28).
02. DOENÇA OU CONCUPISCÊNCIA DA CARNE?
A psicoterapia classifica o alcoolismo como uma condição a ser tratada, em vez de se referir à embriaguez como um pecado. Na realidade, falar de pecado ofende as pessoas, principalmente clientes como é o caso dos pacientes, então são inventados diferentes tipos de rótulos para essas condições, menos falar que é pecado. Comportamentos como a devassidão e o adultério são frequentemente interpretados não como pecados, mas sim como expressão de uma liberdade sexual excessiva ou frutos de problemas na infância. Da mesma forma, a ira é categorizada como um comportamento impulsivo, entre outras abordagens simplificadoras. Esses pecados são comumente encarados sob a ótica médica, sendo comparáveis a doenças, mas nunca considerados como consequências do pecado ou originários dele.
No entanto, conforme as Sagradas Escrituras, pecados como embriaguez, prostituição, vaidade, ganância, homossexualidade, ira, contendas, roubo, inveja, dentre tantos outros são considerados obras da carne (Gl 5.19-21).
A carne é uma natureza pecaminosa que passou a existir dentro de cada ser humano – sem exceções – herdada de Adão após seu pecado (Rm 5.12-21). Essa natureza corrompida exerce influência sobre as ações e escolhas humanas e, constantemente, induz as pessoas ao pecado. Ela os escraviza, de modo que não façam conscientemente o que querem (Gl 5.16-17), mas sob sua influência. Inclusive, o diabo e os demônios tentam as pessoas a pecarem por meio das concupiscências da carne (1Co 10.13; Ef 2.1-3). Por isso, muitas vezes, as tentações parecem ser irresistíveis (Tg 1.14). Tudo isso ilustra a a escravidão imposta pela carne e pelas forças demoníacas, já que “as pessoas se tornam escravas daquilo que as domina” (2Pe 2.19; Jo 8.34).
Os desejos da carne serão sempre contrários à vontade de Deus. Tal natureza nos torna rebeldes contra Ele. Dada a escolha de fazer a vontade de Deus ou a nossa, naturalmente escolheremos fazer a nossa (Rm 7.18-20). A única solução para o problema do pecado é o sangue de Jesus Cristo. Para resistir à concupiscência da carne, precisamos do Espírito Santo de Deus que nos concede uma capacidade sobrenatural para renunciarmos aos pecados e vivermos uma vida genuinamente santa (Rm 8.13; Gl 5.24-25).
Portanto, os distúrbios comportamentais e disfunções psicológicas que afligem inúmeras pessoas não decorrem exclusivamente de traumas na infância ou questões sociais e familiares ou qualquer outra patologia identificável. Há uma profundidade muito maior nesta questão subjacente. Os problemas internos das pessoas têm origem na carne, e somente Jesus pode efetivamente ajudá-los a resolverem esses dilemas.
03. TERAPIA PROFISSIONAL OU A PALAVRA DE DEUS?
A "psicologia cristã", ao mesmo tempo em que reconhece a Bíblia, utiliza uma linguagem e métodos semelhantes aos da psicologia secular. Questionemos aqueles que almejam sinceramente agradar a Deus: Os fundamentos da psicologia cristã estão todos embasados nas Escrituras, ou isso ocorre somente quando é conveniente? Quando os profissionais utilizam métodos exclusivamente da psicoterapia, se perguntam se suas práticas podem estar em desacordo com algum ensinamento bíblico, o que poderia potencialmente conduzir o paciente ao pecado? Há algo mais ideal para a humanidade do que as Escrituras?
O Deus da eternidade nos criou com Sua incomensurável sabedoria. Ele nos compreende e conhece nossa essência melhor do que qualquer ser humano. Mesmo diante dos pecados da humanidade (Gn 3), foi tão Amoroso que proveu uma salvação perfeita através de Seu Filho, Jesus Cristo. Essa salvação abrange não apenas a libertação do castigo do pecado (o inferno), mas também o livramento em relação ao poder do pecado e das forças demoníacas, resultando em uma vida transformada.
Será que existe algum livro que seja mais profissional do que o Livro de Deus? Haveria alguma informação adicional capaz de nos auxiliar na vida cotidiana que devesse ser acrescentada às Escrituras? Todo cristão piedoso que se aprofunda no conhecimento bíblico e que anda com o Senhor possui tanto ou mais competência para oferecer conselhos sábios quanto qualquer outro especialista, visto que possui a mente de Cristo (1 Co 2.15-16). Por outro lado, um profissional que adota abordagens da psicologia pode, com facilidade, entrar em desacordo com os princípios fundamentados por Deus nas Escrituras. A pergunta que surge é: nós, filhos de Deus, vivemos segundo os padrões do reino de Deus ou do reino do mundo? É possível conciliá-los (Tg 4.4; 1Jo 2.15-16)?
As Sagradas Escrituras são suficientes não apenas para a salvação, mas também para orientar a vida cristã. A psicologia, como um ato de incredulidade, presume que toda verdade proveniente de Deus deve ser descoberta ou revelada ulteriormente. Mas as Escrituras já são completas e nenhuma nova revelação pode ser somada a elas.
“Desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir e para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2 Tm 3.15-17).
Em situações relacionadas ao corpo humano, como problemas visuais ou auditivos, pode ser necessário consultar um médico. Todavia, quando se trata de aspectos da alma (do grego psuche – psyche) humana, devemos dirigir-nos ao Senhor, pois Ele é o “Pastor e Guardião das nossas almas” (1 Pe 2.25). Ele possui conhecimento profundo sobre nossas almas. Podemos entregar-Lhe todas as nossas petições, porque Ele cuida de nós pessoalmente.
04. A TENTATIVA EQUIVOCADA DE QUERER COMPLEMENTAR A BÍBLIA
A psicologia tem sabotado de muitos “crentes” a “fé” no que diz respeito à suficiência das Escrituras. Visto como os psicólogos sustentam ter "insights" sobre a natureza humana, além de métodos para alterá-la, métodos estes que não se encontram na Bíblia, isso quer dizer que a Bíblia não é suficiente para aconselhar nem atender as necessidades mentais, emocionais e comportamentais dos crentes. É preciso mandá-los à psicoterapia!
A psicoterapia vendeu à igreja essa mentira de que a psicologia pode ser integrada à Bíblia. Tal ideia deveria causar indignação em todo crente dotado de reflexão crítica e conhecimento bíblico. Dada a oposição fundamental entre a psicologia e as Escrituras, deveria ser óbvia a impossibilidade de uma verdadeira integração em seus ensinamentos. Ademais, caso a Bíblia — o Livro escrito por Deus — seja insuficiente para englobar todos os aspectos da vida e da piedade, as criaturas feitas por Ele precisariam procurar seu bem-estar mental, emocional e comportamental em fontes que não sejam as Escrituras ou o próprio Deus. Nesse cenário, Deus seria insuficiente, e a declaração bíblica acerca de sua autoridade, infalibilidade e suficiência se tornaria igualmente insustentável.
05. A AUTOESTIMA OU A NEGAÇÃO DE SI MESMO
A psicologia, seja ela secular ou cristã, costuma abordar três pontos centrais relacionados à autoestima:
1) A psicologia afirma que o nível de autoestima influencia o comportamento das pessoas. Em contraste, a Bíblia ensina que a estima que nutrimos pelo Senhor Jesus, ao contemplá-Lo e não a nós mesmos, transforma nossa conduta (2 Co 3.18).
2) Segundo a psicologia, a falta de autoestima é responsável pela maioria dos problemas comportamentais. Ela tenta melhorar o ego através de conceitos como amor próprio, autoestima, auto-dignidade, autoimagem e autorrealização. Por outro lado, a Bíblia esclarece que “o ego inflado e o orgulho da vida” são os principais elementos que alimentam o sistema ímpio que domina nosso planeta (1 Jo 2.16). De maneira profética, as Escrituras apontam –– o que seria a principal solução mostrada no aconselhamento psicológico, o amor próprio –– como o catalisador de uma vida marcada pela depravação: “Saiba, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá pessoas amantes de si mesmas...” (2 Tm 3.1–2). Essa admoestação principia com uma característica que é a pedra fundamental da psicologia humanista, a qual Paulo diz, nos versos 2-5, ser a raiz de todos os males - o amor próprio.
3) A psicologia afirma que a maioria das pessoas sofre de falta de autoestima ou, em alguns casos, da completa ausência dela. Em contrapartida, a Bíblia classifica os ímpios deste mundo como sendo soberbos, mesmo que muitas vezes não tenham consciência disso: “tudo o que há nesse mundo – os maus desejos da carne, os maus desejos dos olhos e a soberba da vida – isto não é de Deus, mas do mundo” (1Jo 2.15-16; cf. Sl 10.2-6).
Satanás não pecou por falta de autoestima, mas pelo excesso dela: egoísmo e orgulho (1 Tm 3.6). Ele se considera como superior aos demais a ponto de se comparar ao próprio Deus. O mesmo ocorre com aqueles que permanecem sob seu domínio (1Jo 3.8). Agora, para aqueles libertados por Deus, o Senhor Jesus declarou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Isso quer dizer que, para alcançarmos a salvação, devemos rejeitar os desejos da carne (natureza pecaminosa), os mesmos que geralmente nos conduzem à competitividade, arrogância e egoísmo.
Para se agradar a Deus e ser usado por Ele, o segredo não reside em ter uma autoestima elevada, mas sim, em negarmos a quem éramos antes de conhecer a Cristo.
Reflita sobre as palavras dos seguintes homens de Deus:
Abraão: “Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza” (Gn 18.27).
Jacó: “sou menor do que todas as beneficências [...] que tiveste com teu servo” (Gn 32.10).
João Batista: “É necessário que ele cresça e eu diminua” (Jo 3.30).
Pedro: “Afasta-te de mim, porque sou um homem pecador” (Lc 5.8).
Paulo: “A mim o mínimo de todos os santos...” (Ef 3.8). "Longe esteja de mim gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo" (Gálatas 6.14).
O maior exemplo de humildade, altruísmo e entrega em favor dos outros é encontrado em nosso Senhor Jesus Cristo: "Não façam nada por contenda ou vanglória, mas por humildade; considerando os outros como superiores a si mesmos. Cada um cuide não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. De modo que tenham em vocês o mesmo sentimento que também houve em Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Pelo contrário, aniquilou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo e tornando-se semelhante aos homens. E, como homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz" (2.3-8).
06. A PSICOTERAPIA NÃO POSSUI FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS
Martin e Deidre Bobgan, em sua obra “The End of Christian Psychology” (O Fim da Psicologia Cristã), afirmam: Tentando analisar o status da psicologia, a Associação Americana de Psicologia designou o Dr. Sigmund Koch para planejar e coordenar um estudo financiado pela ‘National Science Foundation’ (Fundação Nacional da Ciência). Tal pesquisa conta com a participação de oito renomados estudiosos que analisam os fatos, teorias e métodos da psicologia. Os resultados desse abrangente esforço foram divulgados em uma série de sete volumes intitulada ‘Psychology: a Study of a Science’ (Psicologia: um Estudo de Uma Ciência). O Dr. Koch sintetiza as conclusões dessa notável equipe nas seguintes palavras: ‘Suponho que agora fica absoluta e finalmente óbvio que a psicologia não é uma ciência coerente’”.
O Dr. Carl Popper, amplamente reconhecido como um dos mais importantes filósofos da ciência, após realizar um estudo detalhado sobre a psicoterapia, declarou: “Embora se apresente como ciência, na verdade (a psicoterapia) possui muito mais em comum com mitos primitivos do que com a ciência e se assemelha mais à astrologia do que à astronomia”.
Devida à Freud, e a outros com antecedentes médicos, a psicoterapia possui termos e conceitos que dão a falsa impressão de que têm a ver com a ciência médica. A compreensão do termo "doença" é a chave para se entender essa ilusão.
Será que o processo mental de alguém, compreendendo seus pensamentos e comportamentos, podem ficar literalmente enfermos? Embora nossos cérebros, que são físicos, possam sofrer adoecimentos, as nossas mentes, que não são físicas, não podem adoecer. Nesse caso, a expressão "mentalmente enfermo" está errada –– trata-se de um mito. Salvo algumas exceções no campo da psiquiatria, os psicoterapeutas não abordam as questões orgânicas ou físicas apresentadas por seus pacientes.
Então, o que fazem os psicoterapeutas? Ora, no máximo eles conversam com os pacientes e os escutam. O psiquiatra e pesquisador Thomas Szasz elucida: “Em linguagem clara, o que o paciente e o psiquiatra realmente fazem? Eles falam e escutam um ao outro. Sobre o que falam? Em termos simples, o paciente fala de si mesmo enquanto o terapeuta faz considerações acerca do paciente [...] cada um tentando conduzir o outro a enxergar ou fazer coisas, de um certo modo”.
Mas, por quais razões a psicologia cristã não consegue harmonizar a ciência com a fé? Porque a psicologia não é uma ciência e nem pode ser cristianizada. É certo que existem crentes formados e profissionais licenciados em psicoterapia, porém, estes não atuam em áreas ou correntes reconhecidas como cristãs.
Considerem esta afirmação como representativa da perspectiva da “Christian Association for Psychological Studies” (Associação Cristã de Estudos Psicológicos) acerca da psicologia cristã: “Recebemos frequentemente perguntas sobre sermos ‘psicólogos cristãos’. Somos cristãos psicólogos, mas no momento não existe qualquer forma aceitável de psicologia cristã que seja significativamente distinta da psicologia secular. É difícil concluir que operamos de maneira fundamentalmente diferente dos colegas não cristãos [...] Além disso, não há uma teoria aceita, um método de pesquisa ou uma metodologia terapêutica claramente cristã”.
Então, como agem os psicoterapeutas licenciados? Eles fazem uso seletivo dos conceitos adquiridos durante sua formação acadêmica secular e buscam integrá-los ao seu sistema de crença cristã. Contudo, esses conceitos são todos incompatíveis com a abordagem bíblica para lidar com os problemas enfrentados por um crente relacionados ao pecado e à busca por uma vida produtiva e frutífera que agrade ao Senhor.
É de admirar que um crente recorra a essas teorias fundamentadas na sabedoria humana criadas por indivíduos manifestamente anticristãos. Freud via a religião como uma ilusão e era conhecido por seu ódio ao Cristianismo, o qual ele acreditava ter ensinos antissemitas. Outros pensadores como Abraão Maslow e Carl Rogers demonstravam abertamente tendências novaeristas e ocultistas. Aqui, cabe destacar a citação de um conceituado líder psicólogo que se diz cristão: “Sob a influência de psicólogos humanistas como Carl Rogers e Abraão Maslow, muitos de nós crentes temos começado a perceber nossa necessidade de amor próprio e autoestima. Este é um foco válido e necessário”. Porém, essa perspectiva não encontra respaldo nas Escrituras!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À luz dos aspectos observados, chega-se à conclusão de que o Cristianismo realmente enfrenta a crescente influência da "psicologia cristã e secular", a qual é ensinada em escolas bíblicas e utilizada em sermões nas igrejas apóstatas, estimulando os fiéis a buscar terapia como uma forma de lidar com seus distúrbios pessoais e problemas no âmbito profissional.
Entretanto, a psicologia cristã se configura como um meio ineficaz de transmitir a Palavra de Deus, e se apresenta como uma abordagem distinta, que pode facilmente desviar os cristãos para outros caminhos.
Devido à expressiva influência que tem tido na igreja, o caminho psicológico comparado ao caminho bíblico deveria ser assunto de interesse crítico para todos os que crêem que a Palavra de Deus é a sua autoridade e que ela é plenamente suficiente para nos dar “tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude” (2 Pedro 1:3).
É evidente que a "psicologia cristã" possui semelhanças com a psicologia secular, o que comumente gera divergências com os princípios bíblicos. O aconselhamento psicológico promove sempre a crença de que os problemas que afetam adversamente o bem-estar mental e emocional da pessoa são resultantes de fatores externos, como abusos parentais e condições ambientais. No entanto, a Bíblia ensina que é a maldade do coração humano e suas escolhas pecaminosas que geram problemas emocionais e comportamentais: “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem” (Mc 7.21-23). A psicoterapia classifica esses comportamentos pecaminosos como distúrbios a serem tratados, enquanto a Bíblia os reconhece como pecados decorrentes da natureza pecaminosa herdada de Adão.
Além disso, quando se compara a eficácia da terapia à sabedoria das Escrituras, observa-se que a terapia se mostra demasiada ineficaz e superficial, de modo que a Palavra de Deus é suficiente para a orientação da vida cristã.
Por fim, ao invés de buscar autoestima, os cristãos devem renunciar a si mesmos e seguir Cristo. Assim, a proposta do Evangelho é um chamado ao arrependimento, renuncia e transformação de vida, em contraste com as abordagens da psicologia que muitas vezes não reconhecem nem levam em conta a natureza pecaminosa do ser humano.
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