Não Querem Ouvir a Lei de Deus
Em Isaías 30.9-11 está escrito: “Porque este povo é rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor. Eles dizem aos videntes: Não tenham mais visões! e aos profetas: Não nos profetizem o que é certo! Em vez disto, nos falem de coisas agradáveis, nos bajulem com profecias enganadoras. Deixem esse caminho, abandonem essa vereda, e façam que deixe de estar o Santo de Israel perante nós”.
Os israelitas não suportavam ouvir palavras proféticas que condenavam seu modo de vida pecaminoso. Estavam cansados de ouvir falar de Deus e da vida santa que Ele requer. Queriam ouvir mensagens promissoras e motivacionais, mensagens agradáveis e brandas que não conflitassem com seu modo errado de viver.
Paulo declara que nos últimos dias, semelhante condição moral e espiritual prevalecerá entre certos grupos nas igrejas: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas sentindo coceira nos ouvidos, ajuntarão para si doutores conforme os seus próprios maus desejos. E recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para as fábulas [mitos]” cf. (2Tm 4.3-4).
Enquanto o verdadeiro adorador, ao ouvir sobre a justiça de Deus, dá brados de glória e de aleluias por sua vida estar alinhada com o amor e a justiça divina, o falso crente, por sua vez, se sente incomodado, como se tivesse com coceiras nos ouvidos. Assim como nós, eles gostam de ouvir sobre o amor de Deus, mas não suportam ouvir sobre a justiça divina. Com isso rejeitam os mensageiros de Deus que proclamam a verdade e, em vez disso, procuram pregadores que falam o que eles desejam ouvir. Insistem em mensagens agradáveis e lisonjeiras, que não condenam o pecado e o mundanismo, antes, só falam de benção, da segurança desses crentes e do amor de Deus sem a aplicação de Sua justiça, não importando o que fizerem.
Contudo, como fora dito pelo Senhor, no final dos tempos era de se esperar que isto sucederia, e que “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriaria” (Mt 24.12). Como resultante, as pessoas estão se apostatando literalmente da fé: “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns apostatarão [abandonarão] a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios” (1Tm 4.1). Isso ocorre desde a nação de Israel (Is 30.9-11), por todo o curso da história da igreja (At 7.51-54), e como está evidente no texto acima, permanecerá até o final dos tempos; mas, irá tornar-se ainda pior. Sempre houve aqueles que não amam a sã doutrina, e à medida que o fim se aproxima, a situação nesse sentido tornar-se-á estarrecedora (Mt 24.12; 1Tm 4.1).
“Não suportarão a sã doutrina” (v. 3). Muitos professarão ser crentes, frequentarão as igrejas e mostrarão que servem a Deus, mas não aceitarão a fé apostólica original do Novo Testamento nem as exigências bíblicas ordenando que o crente se separe da injustiça (2 Tm 3.5).
“Desviarão os ouvidos da verdade” (v. 4). A autêntica pregação bíblica de um homem de Deus não mais será aceita por muitas igrejas. Os desviados da verdade desejarão sermões que apresentem um evangelho menos exigente (2Tm 3.7-8; Tt 1.14). Já não aceitarão trechos da Palavra de Deus que tratam de arrependimento, pecado, perdição, necessidade da santidade e de separação do mundo (Jr 5.30-31; Os 4.1-2).
“Ajuntarão para si doutores conforme os seus próprios maus desejos” (v. 3). As pessoas querem mestres que falem o que elas querem ouvir. Acercam-se daqueles que lhes darão exatamente o que desejam. Preferem os pregadores da conveniência. Procuram não a verdade, mas o que lhes acalme o coração, enquanto permanecem em seus pecados. Esses crentes não vão querer pastores segundo os padrões da Palavra de Deus (1Tm 3.1-10), mas buscarão os que toleram seus desejos egoístas e mundanos. Escolherão pregadores com dons de oratória, com a habilidade de divertir o povo e com uma mensagem que lhes assegure que é possível ser crente e continuar vivendo segundo a carne (Rm 8.4-13; 2Pe 2).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como a própria natureza essencial do caráter de Deus constitui-se plenamente em amor e justiça, a vida do cristão deve ser vivida permeada pelo amor e pela justiça de Deus de forma plena. Não adianta querermos viver o amor de Deus sem a Sua justiça. Agindo assim, estamos enganando a nós mesmos. O evangelho verdadeiro é vivido de forma completa e não parcial. Muitos pensam que por terem sido alcançados pelo amor de Deus estão desobrigados da justiça de Deus; ora, a salvação pode ser fruto da graça de Deus, mas a graça não me dá o direito de viver na injustiça [pecado] (Ef 2.8). E, assim como a salvação é fruto da Sua graça, também o é da Sua justiça, afinal, fora para cumprir a Sua própria justiça que Deus enviou Jesus Cristo por amor para salvar a humanidade perdida (Rm 5.17-19).
A própria obra de Cristo no Calvário foi o maior exemplo da completude entre o amor e a justiça divina, pois, se por um lado vemos o imenso amor de Deus ao enviar seu próprio Filho, por outro, vemos que esse sacrifício serviu para satisfazer a Sua própria justiça e santidade: “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus”. “Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente por sua graça por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação pela fé no seu sangue, demonstrando assim, a sua justiça pela remissão dos pecados que anteriormente foram cometidos sob a paciência de Deus; mas, no presente, demonstrou a sua justiça a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (2Co 5.21; Rm 3.22-26).
Portanto, falar de sã doutrina é falar genuinamente do amor e da justiça de Deus. Ambos se complementam. Todavia, o Espírito Santo adverte todos que permanecem fiéis a Deus e se submetem à sua Palavra, que lhes aguardam perseguição e sofrimento, por amor à justiça (2Tm 3.10-12; Mt 5.10-12). Mas isso não é motivo para desanimarmos, porquanto, “a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; assim não devemos nos atentar nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.17-18).
No mais, devemos permanecer fiéis e sempre leais ao evangelho genuíno, e dar ouvidos aos fiéis ministros de Deus que o proclamam; nos alimentando da fiel Palavra do jeito que ela é, buscando em obediência ajustar a nossa vida a ela para assim desfrutarmos das benções de Deus (Dt 28) e da vida eterna.
“O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável” (Pv 28.9).